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VENCEDORES DO III CONCURSO EROTISMO COM ARTE
VENCEDORES DO III CONCURSO EROTISMO COM ARTE


 

 

TEXTOS VENCEDORES DO III CONCURSO EROTISMO COM ARTE

 

CATEGORIA POESIA

 

 

 

MEDALHA DE OURO

 

 

TROPO AO BELO

 

(João Murillo Teixeira Bezerra)

 

 

Sua flor de carne

Encardida pelo tempo

Faz-me querer ser

Um beija-flor hipocondríaco

Fazer-te sentir meu mel,

Pedir para parar a ferroada,

Pois sou abelha canibal e faminta

Pelo pólen de sangue puro

Quero tocar teu ponto de luz

Com meu beijo de escuridão

Aprofundar-me em teu ser

De corpo, alma e divindade.

Nas alturas do Empíreo

Abrandar teu fogo manso

Em sal, saliva e vinho tinto

Insosso cálice, morno de Amor.

 

 

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MEDALHA DE PRATA

 

 

FALO

(Idilia Viana)

 

Do seu falo,eu falo ,
Não calo.
Que importa seu tamanho ?
Se pequeno ou grande,
Tanto me agrada.
Do seu falo, eu falo ,
Não calo.
Melhor que sua cabeça,
É a cabeça do seu falo !

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MEDALHA DE BRONZE

 

 

JARDIM DE EROS

 

(Rodrigo Marinho Starling)

 

Dê-me uma donzela-flor!

Verá eu coroá-la de frutos...

Meus dedos de orvalho

Hão de umedecer teu broto

Da haste

Desfolharei: uma, duas, três camadas

Passearei em rigidez intensa

Por toda a extensão do caule

Eu, suave rebento!

Encantarei...

A noite, a mulher, a figueira e a lua                                                      

Comerei figos ao beijar-te o tronco

E teus galhos

Serão braços a conter a noite

Noite, figueira e lua irrompidas

Eu, Metamorfose de Ovídio

Eros a visitar os grandes

Lábios onde derramo seiva

 

 

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CATEGORIA PROSA

 

 

MEDALHA DE OURO

 

 

ABIGAIL

(Teresa C. C. M. Azevedo)

 

Desde que Abigail começou trabalhar como técnica em informática na empresa, eu a vinha observando. A estação dela era de frente para minha e eu podia acompanhar todos os seus movimentos, até os mais discretos, sempre que olhava para o teclado ou levantava a cabeça para a porta de entrada.

Ela era uma mulher séria e, mesmo quando alguém da sala contava uma piada engraçada, raramente ria. Ao telefone falava de forma pausada e sempre respondia a tudo com muita precisão. Ao contrário dos demais colegas, evitava misturar-se em rodinhas, parar com os outros para a hora do café ou qualquer interação social parecida. Normalmente era pontual para chegar e seguia rigorosamente o horário de almoço, mas o horário de saída era o único que não obedecia às regras: em quase todos os dias permanecia na empresa após o expediente desenvolvendo algum projeto que era apresentado nas mais importantes reuniões do mês, e que sempre causava espanto pela engenhosidade e construção primorosa, o que fazia que os próprios clientes mais antigos a preferissem na condução de seus projetos.

Abigail sempre se vestia com terninhos de saias com generosas fendas e camisas com decotes, o que contrariava sua aparente seriedade. Suas unhas e seu cabelo sempre arrumados, o que dava a impressão de que ela tinha acabado de sair de um salão de beleza. A maquiagem suave mostrava um rosto sem beleza, mas o corpo era fenomenal. Mesmo. Perfeitamente curvilíneo, seios fartos e firmes, bumbum roliço, pernas grossas, pele lisa e bronzeada... Um corpo magnificamente desenhado em cada detalhe. O rosto era feio, na verdade, por trazer marcas profundas que pareciam cortes estranhos, mas escondia olhos negros penetrantes com grandes cílios e belas sobrancelhas (uma delas com uma pequena falha, causada provavelmente pelo mesmo motivo das cicatrizes) e lábios carnudos em uma boca muito bem desenhada. Para ser mais exato, ela é o tipo de mulher que, vista a um quarteirão de distância, é a mais linda e gostosa de todas as mulheres que já cruzaram seu caminho. Mas, quando ela se aproxima, você percebe muitas imperfeições faciais. De qualquer forma, o conjunto é extremamente agradável e excitante, cheio de sensualidade –ainda que “resguardada” pela distância que ela mantém.

Todos os homens do trabalho a desejam, mesmo porque com exceção dela e da diretora da empresa, todos os outros empregados são homens. Mas Abigail ignora a nós todos, nunca se insinua para ninguém – seu comportamento sugeriria até mesmo que fosse uma virgem intocável, não fosse nossa imaginação em que a conhecemos tantas e tantas vezes... Bem, voltemos à tarde de seu primeiro dia no escritório. Eu estava desgastado pelo excesso de serviço dos últimos meses e há muito tinha passado os dados estatísticos que comprovavam minhas razões de tamanho cansaço. A diretora, uma mulher bonita e muito feminina, gentil no falar e no agir, e uma profissional respeitadíssima pela competência e visão empreendedora, preocupava-se com o excesso de serviço distribuído a cada um dos funcionários. Por esta razão, já vinha há algum tempo realizando entrevistas com candidatos que, ao que parece, não correspondiam às suas expectativas. Mas, numa quinta-feira pela manhã, foi-nos apresentada Abigail. Ela faria parte do quadro de funcionários e cuidaria de 20% dos projetos de cada um de nós, que éramos cinco até então.

Todos estranhamos que ela surgisse de uma hora para outra, porque não nos lembrávamos de ela ter aparecido para qualquer entrevista. Mas Clara, a diretora, explicou-nos que Abigail havia sido indicada por um amigo, e que seu currículo comprovava todo o relato deste amigo sobre a competência da nova funcionária. Desta forma, começamos a atualizá-la de todos os projetos, e ela abraçava tudo com muita tranquilidade. Com o passar do tempo tivemos a certeza de que ela foi uma das melhores contratações da empresa dos últimos anos. Alguns inclusive começaram a se preocuparem com sua ascensão, e era possível perceber alguma inveja e tentativas de coloca-la em situações complicadas para prejudica-la. Tudo isso era, entretanto, em vão. Abigail era perspicaz e eficiente, não se preocupava com tais interferências e sempre conseguia superá-las. E eu, ao contrário de alguns colegas, torcia e babava por ela.

Houve uma tarde em que esqueci minha carteira na empresa e à noite saí para jantar com uma amiga. Só percebi, muito constrangido, que não estava com o dinheiro na hora de pagar a conta. Felizmente Angélica, minha companhia, pode pagar por mim. Apesar de ser tarde decidi buscar a carteira na empresa, pois precisava comprar algumas coisas no mercado ainda naquela noite. Parei o carro no estacionamento e estranhei que várias luzes ainda estivessem acesas. Normalmente, o segurança mantinha acesa apenas a luz do cômodo onde ele ficava, mas lembrei-me ter ouvido Clara dizer que, naquela noite, o segurança não iria trabalhar pois cuidaria da esposa doente. Preocupado de que a empresa pudesse estar sendo assaltada, entrei com muito cuidado para que as portas não fizessem quaisquer ruídos.

Foi então que ouvi alguns ruídos vindos da sala de Clara. Dirigi-me até a porta semiaberta e, para meu completo espanto, vi aquelas duas mulheres na mais calorosa e apaixonada cena que qualquer um poderia imaginar. Num primeiro momento tive vontade de interrompê-las, tamanho foi meu espanto; mas ver duas mulheres lindas em uma situação sensual me deixou tão excitado, que acabei me aquietando para, em silêncio, observar cada movimento. Pude reparar que Clara tinha uma grande cicatriz no lado esquerdo do abdômen, o que provavelmente seria resultado de alguma cirurgia. Esperava o momento apropriado para entrar e propor-lhes um ménage à trois mas, antes mesmo que eu tomasse coragem, o êxtase diminuiu e Clara começou a conversar com Abigail. Aproximei-me um pouco mais da porta para ouvir melhor o que diziam.

— Já falei com o doutor Pontes para marcar sua cirurgia, Bi.

Abigail, então, afastou-se um pouco e disse:

— E o que diremos a todos aqui?

— Diremos que fará uma cirurgia plástica, e que desde antes de ser contratada você aguardava o agendamento do procedimento. Que mal há nisto? – pergunta Clara.

— Fico constrangida em discutir tais assuntos com outras pessoas, você sabe como eu sou... – respondeu Abigail enquanto levava a mão ao rosto para colher uma lágrima que descia de seus olhos.

— Venha cá, meu amor, não fique assim. Eu mesma comunicarei sobre a cirurgia e pedirei discrição nas perguntas e comentários, explicando que você não gosta de falar no assunto.

— Eu não quero que ninguém fique apontando o dedo pra mim e me olhando com pena! Por que é que Estevan não me deixou simplesmente? Por quê? – Abigail indaga revoltada, enquanto soluça no peito de Clara.

— Meu amor, fique calma. Se não quiser, não iremos até o doutor Pontes. Vamos esquecer aquele dia, por favor. Ambas sabemos como Estevan costumava ser violento, e ainda mais quando soube a nosso respeito. Mas o que não dá pra aceitar é que ele tenha nos esfaqueado como fez.– e, abraçada a Abigail, Clara prossegue – Por favor, Bi... Sabe que a amo e acho-a linda assim como você está. E nada mudará isso nunca! Fique tranquila, não tocarei mais no assunto.

Estupefato, afastei-me com o máximo de cuidado para não ser apanhado. Felizmente ambas estavam muito atordoadas com o momento vivido, e não se deram conta de minha presença. Quando finalmente cheguei ao carro, respirei fundo e soltei o nó da gravata para permitir que o ar não me faltasse. Levei as mãos à cabeça totalmente perdido com o que havia acabado de presenciar, e as cenas vinham à minha mente de forma louca e desordenada. Deduzi que o tal Estevan seria um provável marido ou namorado de Abigail na época em que o caso das duas foi descoberto por ele. Os golpes desferidos pelo homem enganado deixaram cicatrizes no rosto de Abigail e no abdômen de Clara.

Eu queria saber de tudo com detalhes, pensei até em chamar Abigail no dia seguinte e oferecer-me para conversar e ajudar no que precisasse, mas depois me lembrei de como ela ficou ao imaginar as pessoas questionando-a. Assim, desejando ajudar e não complicar ainda mais algo que já era demasiado complexo, decidi fingir que aquela noite não havia acontecido. Mas as cenas não saíram de minha mente e, no que diz respeito a elas, não consegui fingir que não tinham existido. Eu não só imaginava – como os demais colegas – o corpo delicioso de Abigail, como conhecia os detalhes. Saber o que ela havia passado não tornava menor minha vontade de possuí-la e, ainda que eu soubesse não estar entre suas preferências, ainda a desejava com fervor.

 

 

 

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MEDALHA DE PRATA

 

 

 

HELENAS

 

(Mario Rezende)

 

Elas eram primas, a diferença de idade era pouca e tinham o mesmo nome, Helena. Desde pequenas eram, além do parentesco, amigas íntimas. Andavam sempre juntas e não tinham segredos entre si. Na fase de transição para a adolescência, as transformações do corpo de cada uma era acompanhada pela outra. Dessa forma conheciam-se perfeitamente. As diferenças de personalidade, uma brincalhona e a outra séria, fazia com que se completassem. Em outro ponto também eram bem diferentes, uma delas exibia um corpo perfeito enquanto a outra era mais cheinha.

A Helena esbelta apaixonou-se por um homem casado que morava no mesmo prédio dela, um andar abaixo. Com ele perdeu a virgindade, cujos detalhes foram revelados minuciosamente para a prima, inclusive o tamanho e a conformação dele.

Certo dia a mais cheinha havia dormido com a prima e quando acordou ela não estava na cama, nem em casa a encontrou. Logo adivinhou em que cama ela havia se enfiado. Sentou-se à mesa da cozinha e estava tomando café quando a outra entrou feito um furacão, fula da vida.

 - O filho da mãe não me quis só porque na ora agá eu percebi que estava começando a menstruar. Ele disse que não gosta de fazer com sangue, sente nojo e perde o tesão.

Foi a oportunidade que a outra estava esperando.

            - Eu posso ir lá? Eu estou doida para ser mulher igual a você, já está mais do que na hora. Daqui a pouco eu vou ser a única virgem do pedaço, estou ficando fora de moda.

            - Vá lá. Ele está sozinho, a mulher dele foi visitar a mãe dela. A porta deve estar aberta. Quando eu saí, ele ficou deitado.

Ela enfiou o último pedaço de pão na boca e o resto de café com leite que estava no copo e saiu apressada da cozinha. Voltou correndo e deu um beijo no rosto da prima.

- Você é a melhor prima do mundo!

Desceu correndo as escadas até o andar de baixo e entrou no apartamento do amante da prima. A porta estava aberta como a prima falou. Não foi difícil encontrar o quarto. Ele estava deitado na cama, de bruços, com uma das pernas dobradas de maneira que dava para ver, por trás, que ele ainda não tinha diminuído a excitação que a prima tinha provocado. Era a primeira vez que ela via um homem totalmente nu e daquele jeito, ao vivo, claro. Então, decidida, tirou toda a roupa, em silêncio, jogou sobre uma poltrona, por último, a calcinha enrolada, já com a umidade provocada pelo excitamento. Subiu na cama e roçou os mamilos nas costas dele. Ele virou-se de repente, assustado, e ela sentou-se em cima, sentindo toda a ereção dele forçando os seus lábios naturalmente entreabertos. Nessa altura ela já estava louca de tesão.

 - Deixa! – Ela falou. Percebeu a diferença, não foi? Os meus seios são maiores que os dela e eu sou mais cheinha. Mas eu também sou mais safadinha e também mais apertadinha porque é menor que a dela, você vai gostar... Se vai!  Eu sei de tudo e se você não me comer agora todo mundo vai ficar sabendo que você transa com a Helena.

Ele não disse nada. Pôs as mãos nos seios dela e apertou, chegou a doer um pouquinho, mas ela não disse nada. As mãos dele desceram pelo seu corpo acariciando cada centímetro até alcançar as nádegas. Apertou as duas e puxou-a para ele quando os dedos encontraram a umidade da vulva enquanto roçavam o ânus.

 Ele correspondeu completamente aos anseios dela, demonstrando que sabe tratar uma mulher, virgem ou não. Deitou-a na cama e, delicadamente, desfez o laço inaugural. Ela só sentiu um prazer intenso quando ele foi escorregando devagar até invadi-la por completo e a preencher, tornando-a mulher do jeito que ela imaginava seria a primeira vez. Ela, sentindo-se completa, logo chegou ao orgasmo e todo o seu corpo estremeceu, ao tempo que experimentava o prazer de ter um homem pulsando dentro dela. Exatamente como a prima lhe havia relatado, a quem foi, correndo contar os detalhes, assim que adquiriu forças para deixar a cama e vencer a vontade de fazer mais uma vez, certa de que não faltaria oportunidade.

 

 

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MEDALHA DE BRONZE

 

 

Ignácia e Donato

 

(Pedro Diniz de Araújo Franco)

 


Donato era mirrado. O padrinho custeava-lhe os estudos em colégio particular. Não era chegado aos livros. Ficava mais a vontade nas quadras de basquetebol, que nas aulas. E Donato destacava-se especialmente por ser sexualmente bem dotado. E como, para jogar basquete como armador, tinha que trocar de roupa, era gozado por colegas e adversários nos vestiários. Encabulava-se com as brincadeiras! Que fazer? Brigar não era do seu feitio. Nós dois ficamos amigos no vestibular, aonde Donato chegou aos trancos e barrancos. Com suas deficiências principalmente em Matemática, que já tinham provocado duas reprovações, pediu-me que lhe desse algumas explicações, o que tentei fazer sem muito sucesso. E entre uma equação e outra contou que nem sempre se saía bem no ato sexual, pois as parceiras ficavam com medo de machucarem-se e ele de machucá-las. Ele não ria, quando contava suas dificuldades e percebi que de fato tinha mais problemas, do que aparentava. O que para nós era motivo de risos, para ele trazia tristezas, que o amofinavam mais do que as equações. E quanto garotinho hipogonádico deve ter tido inveja dele!


E um dia conhecemos Ignácia! Tínhamos acabado de estudar e fomos ver um programa na televisão. Ignácia era passista da Escola de Samba Império da Tijuca. E a televisão começava a descobrir o Carnaval. O câmera era dos entendidos e gostava de mulher bonita. Ignácia, além de ser boa de pé, pois sambava mesmo, era uma linda mulata clara. E a telinha começou a mostrá-la nos tornozelos, rapidamente passou pelas sandálias. Foi subindo, subindo devagar, subindo. Chegou. Não havia cores na televisão daquela época. Para que cores em Ignácia? Mostrou-lhe as ancas em ritmo, depois de frente, de lado, acompanhando os repeniques da bateria, as entradas, as paradas, os silêncios. E as franjas da exígua fantasia branca, que contrastavam com a carnadura, cinza na TV. Todos têm imaginação e sabiam-na morena, abriam-se e fechavam-se, no ritmo, abriam-se e fechavam-se, tremelicavam, salpicando a tela de movimentos e graça. As brancas franjas suadas, o movimento das pernas e não havia vulgaridade de gestos, ou acintes, usados e vistos, eram hino ao movimento e à beleza. Puro samba e vigor e saúde. Ela livre, liberta e libertada, sem parceiros, ou aceclas, sambava risonha e feliz no meio da Escola. O conjunto era lindo, busto, rosto e Donato extasiado, disse-me que o rosto dela parecia ser do tipo mamãe não deixa, mas eu gosto. Não achei graça na classificação, pois tinha achado o rosto de acordo com o resto, entre brejeiro e ingênuo, belo, para além do bem e do mal. Donato soltou um grunhido. Quando ficava alegre de fato, grunhia. E a TV cortou para outra ala e lá se foi Ignácia e lá se foi nossa noite. Meu tio mais novo, pouco mais velho que nós, comerciante no bairro, ajudava financeiramente a Escola de Samba Império da Tijuca. Donato sabia e pediu para falar com meu tio sobre Ignácia. Nunca tinha visto Donato tão interessado em algo. Fomos até sua loja. E o tio sabia das características do Donato. Quem não sabia no bairro? Donato era uma instituição, ainda que desse motivo a piadas e risos. Meu tio sorriu. _ Olhe Donato, até conheço a moça, mas não sei se compensa o trabalho. Ficamos espantados. O tio, que sabíamos entendido em mulher, continuou. _ Dizem, dizem, para encurtar conversa, que é boa de samba e fraca de cama. Dizem! Tive a impressão de que falava por experiência, ainda que tenha sempre negado. _ Mesmo assim agradeço, se me apresentar. Donato estava mesmo interessado, pois era tímido de natureza e pouco falava com quem conhecia superficialmente. Meu tio apresentou-os e nos emprestou até seu Chrisler. Antigamente não havia motéis. Havia automóveis, de preferência americanos, grandes, bancos confortáveis. Eu fiquei com a irmã de Ignácia, que não era de se jogar fora. Perante Ignácia carece de descrição. Donato não tinha carteira de motorista, o que foi ótimo para ele, pois ficou no banco de trás. Fomos para as Paineiras. Naquela época não havia assaltos. Quarta-feira de noite, música em surdina na Eldorado no rádio do Chrisler. Eu e Jacira com pouca ação no banco da frente. Confesso que por culpa do câmera concentrava-me, escutando e intuindo, no que devia estar acontecendo no banco de trás. Ouvimos vários grunhidos do Donato. O vagido final da Jeanne Morreau em "Moderato Cantabile" foi diferente do de Ignácia e ambos marcaram minha audição para sempre. O de Ignácia foi um suspiro só, do fundo da alma, doce, forte, alto, meigo. Sem câmeras de TV, sem sambas, com muito ritmo provavelmente... Eu e Jacira fomos os padrinhos de casamento. Os dois foram felizes e fiéis, talvez até por mandos da natureza. Moraram sempre em casas, que ficavam afastadas de vizinhos, pois precisavam ser noturno e diariamente ruidosos.

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