MEDALHA DE OURO - HELENICE MARIA REIS ROCHA (BELO HORIZONTE - MG)
Amor
Simplesmente amor
no deslizar de uma carícia
ao sul da geografia corporal
o simples gesto de amor
quando pele sobre pele
se debruçam em bruxuleios de carícias
o simples gosto de amar
quando um beijo desce manso sobre a epiderme
o simples gozo de amar
quando o corpo todo se convulsa
por nada
para nunca mais
MEDALHA DE PRATA EM POESIA - LÚCIA PÉRISSÉ (RIO DE JANEIRO - RJ)
AUSÊNCIA
E parece que tudo se foi,
o amor, o carinho, amizade;
e até mesmo a saudade
que insistia em ficar,
acabou de repente, distante,
e se perdeu pelo ar...
Como dói ouvir tua voz
onde só há o silêncio,
como faz falta a presença
que existe na tua ausência...
Quem me dera neste instante,
no silêncio do meu sono,
sonhar e sentir-te tão perto...
eu não queria acordar;
nem que fosse pra morrer
e morrendo...te encontrar...
MEDALHA DE PRATA EM POESIA - VALÉRIA GUERRA REITER (PETRÓPOLIS - RJ)
AMOR
Na minha gota de mar...
Eu sonhei com você...
Eu não pequei, por te ver...
Na minha angústia...
Eu fui tua mania, teu desdém, tua força!
E na praia de minha infância.
Hoje, eu te regurgitei.
Eu fui senhora, fui moda, fui fé!
E de manhã, eu voei.
Na busca, na rua, na roda, eu fui sua.
E hoje aqui nua livre de ti...
Eu arroto o desmazelo.
Amor! Acho que nunca te conheci...
Apenas, fui teu martírio...
MEDALHA DE BRONZE EM POESIA - JANE GUIMARÃES (ARACAJU - SE)
O amor, que cor tem?
Observando quem a gente ama,
é fácil notar pequenos traços
como o doce da voz, a suavidade do olhar,
o jeito de caminhar, um perfume que marca
e fica no ar.
No amor, tudo tem cor e brilho solar!
Um encontro faz o sentimento mergulhar no mar de emoções,
um simples telefonema, palpita o coração
soa como uma bela sinfonia.
Um abraço, que fita o infinito do céu,
uma leveza do toque de mãos , faz lembrar nuvens de algodão.
Palavras que encantam como o brilho das estrelas,
universo de pensamentos,
transforma vida e muda o mundo.
Sonhos de luz,
razão plena de viver!
Um caminho que sintoniza dois corações.
Sentir o amor, não tem explicação.
É como enxergar todas as cores e flores em um vasto jardim,
leve como uma borboleta,
não prende, não sufoca,
Livre e seu.
MEDALHA DE OURO EM PROSA - JANIA SOUZA (NATAL - RN)
O Amor tem Pressa
Enrodilhado no cantinho entre a calçada e o muro, o amor espera.
Há um gatinho faminto.
Seus tristes olhos verdes de bichano são o retrato do abandono e da falta de planejamento na sociedade com o nascituro de animais e até de crianças.
Nas notícias de jornais, crianças recém-nascidas são encontradas no lixo. Fruto de amor casual. Indesejadas. Tristeza arrola lamento do fundo da alma.
O amor tem pressa de tocar corações. De revelar que se realiza desde a concepção, quando a sementinha é fecundada para dar vida a um novo ser.
Pelas calçadas, pelos sinais das cidades, metropolitanas ou provincianas, indigentes labutam subemprego. Têm fome. Fome de amor. Fome de políticas públicas voltadas para a vida, destinadas à sobrevivência. Fome de dignidade. Fome de família. Fome literalmente de alimentos, combustível necessário à saúde do corpo e à preservação da vida.
Eh! O amor tem pressa. Pressa para se infiltrar em cada ser e também na sociedade, só para se revelar a cada indivíduo pensante, que se diz racional.
O amor em sua pressa só quer revelar a importância que cada ser vivente tem por ser um presente da misericórdia da criação. Por isso o amor tem pressa e chama a atenção para que se caminhe nesse chão deliciando-se com a poesia que impregna todos os espaços. A poesia presente em todos os recantos com a luz das cores e desse deslumbrante amor que tem pressa, muita pressa de materializar-se no coração de todo e qualquer homem.
Abra-se para o amor, pois o amor tem muita pressa para inundá-lo com sua luz.
Ouça o canto dos pássaros. Aprisione em seu coração a magia do pôr do sol. Encante-se com a riqueza da diversidade da vida. Ao fechar os olhos, o tato, o olfato, o paladar, os sentidos tudo se acaba. Bum!
Acabou-se a razão do existir.
Por isso o amor tem pressa e clama à sensibilidade e à emoção. Saiam e encontrem-me em qualquer esquina. No beco. No carro. Na igreja. Na tímida flor que lhe sorrir timidamente. No gatinho faminto enrodilhado entre a calçada e o muro com grandes olhos de solidão. Suplicante mendiga um tiquinho de amor.
MEDALHA DE PRATA EM PROSA - JOSÉ HENRIQUE GOMES GONDIM (NATAL - RN)
Meu filho, por que que você tem que ir embora?
Minhas noites de sono estão sendo mais curtas... A inevitável proximidade de minha mãe partir para o paraíso tem me deixado com muita vontade de ficar ao seu lado. Neste momento eu começo a me perguntar por que eu não fiz isto antes... Não precisava abandonar os meus compromissos, minhas diversões ou até mesmo o meu descanso, para passar algumas horas ao seu lado. Mesmo que o assunto que minha mãe fosse me contar como sendo uma novidade eu já tivesse ouvido por diversas vezes, eu teria que fazer cara de surpresa simplesmente para que se sentisse ambientada; e aquela carninha assada com muito pouco sal por causa de sua hipertensão? Achá-la saborosa seria uma atitude de gourmet tendencioso, para elevar o seu ego de cozinheira sexagenária; a sobremesa diet então, esta eu teria que degustar de uma só vez e pedir mais outra porção, diminuindo a distância de sua diabetes para a minha normalidade. Diante de pequenos esforços para tornar o seu dia mais feliz, ainda escuto suas músicas do pós-guerra como sendo um moderno rock roll. Na despedida do final da tarde eu sou obrigado a conviver com suas lágrimas pidonas, querendo que eu fique mais, que eu espere pelo jantar e porque não dormir em sua casa...
Após a missão de bom filho cumprida, chega à hora de recuperar as horas de calmaria ao lado de minha mãe e me entregar as diversões da noite... Tudo uma maravilha... Após um jantar com a minha esposa ao lado de amigos, tudo regado a muita cerveja, ouvir as minhas baladas na boate equilibra o que foi ouvido pelos meus tímpanos durante o dia. Assim, a madrugada chega e o passo desequilibrado pelo efeito do álcool não me deixa mais ficar de pé. É hora de ir para casa e duas histórias podem ser contadas com a mesma frase no final...
Na primeira, com a teimosia inerente de todo bêbado, peguei a chave do carro e decidi que iria dirigindo o meu carro para casa. Minha esposa foi contra e me pediu para levar o carro. Claro que minha autoconfiança etílica não concordou e, depois de muita discussão, entramos no carro e voltamos para casa. Uma teimosia tão idiota que nem mesmo o cinto de segurança eu coloquei, mesmo ouvindo os seus insistentes pedidos. Evidentemente, a probabilidade de aquela noite terminar bem era muito pequena. Foi assim que aconteceu o meu acidente; após cruzar um sinal vermelho fui abalroado por um veículo em alta velocidade que colidiu ao lado do motorista. Foi ai que o cinto de segurança me fez falta... Fui jogado para fora do carro e tive morte imediata. Tudo ficou muito escuro e depois surgiu um clarão, onde anjos se aproximaram e me pegaram pelas mãos me deixando no alto, vendo tudo que estava acontecendo. Eu estava sereno e sem sentir nenhuma emoção. Apenas via as pessoas e ouvia os seus lamentos. Estar deitado naquele caixão com meus filhos, minha esposa (que escapou por um milagre ou talvez por está de cinto de segurança), meus amigos, meus familiares e “Ela”, minha mãe, todos chorando muito, me dava à sensação de um imenso vazio.
Após a chegada do meu corpo no cemitério, os anjos pegaram novamente em minhas mãos e começaram a me levar letamente para baixo. Nesta descida eu comecei a sentir emoções e uma dor profunda me ocupou. Fui colocado deitado sobre o meu corpo dentro do caixão e pude ouvir claramente da boca de minha mãe a última frase antes de tudo se apagar:
- Meu Filho, porque você tem que ir embora?
Na segunda, nada foi diferente, a não ser a coerência de saber que após tanta diversão com ingestão de bebida, seria totalmente proibida a minha volta para casa dirigindo o meu carro. De pronto, entreguei a chave do carro a minha esposa e mesmo sem coordenação motora, provocada pela embriaguez, consegui travar o cinto de segurança e começamos a volta. Interrompida várias vezes por paradas solicitadas por mim, umas para urinar e outras para vomitar. Mas, em todas elas após o aviso de minha esposa, o cinto de segurança era recolocado.
Na verdade nem sei como deitei na cama. Só lembro que ao acordar por volta das dez horas da manhã, minha cabeça estava para explodir. A ressaca era monstruosa e tudo que eu queria era escuro e silêncio. Infelizmente, nenhuma das opções foi possível. Na minha cabeceira de cama o telefone tocou estridente; era minha mãe me convidando para almoçar em sua casa. Estava tão mal, que diante de sua insistência disse que iria almoçar por lá. Obrigado a levantar, tomei um banho frio, um copo de refrigerante e sai sem acordar ninguém. Apesar de ser um belo domingo, com um sol brilhante, para mim tudo parecia cinza. No trajeto comecei a pensar em ouvir toda a conversa novamente, comer a comida sem sal e a sobremesa diet, foi inevitável... Parei para vomitar mais uma vez. Agora não tinha mais nada, somente bile.
Após chegar, senti um cheiro agradável vindo da cozinha e sobre a mesa uma jarra de caldo de cana com gelo (era o que eu bebia quando estava de ressaca na época de solteiro). A boca salivou e não contei conversa, peguei um copo e entornei o caldo, tomando uns dois ou três. Um arrepio súbito aconteceu pelo choque glicêmico. Ao lado vi que tinha um comprimido para dor de cabeça. Quando peguei para tomar, surgiu a minha mãe vindo lá de dentro:
– Bom dia filho. Preparei o quarto para você dormir. Está tudo escurinho e em silêncio. Tome o remédio e se deite. Quando acordar tem camarão bem salgadinho que eu mandei pegar no restaurante. Apesar da cabeça doendo, aquelas palavras não me incomodaram mesmo eu já tendo as ouvido centenas de vezes, porque, foi assim todas os finais de semana que eu chegava de porre na minha vida de solteiro. Dei-lhe um beijo e corri para o quarto. Tudo apagou e durante quatro horas não ouvi nada, não senti nada. Acordei com outros anjos segurando as minhas mãos, desta vez eram os meus filhos:
- Pai você está bem? Quando nós acordamos você não estava em casa ai ligamos para a casa de vovó. Ela não deixou a gente falar com você. Disse que estava dormindo...
Ganhei um beijo de minha esposa e por último um afago “Dela”. Minha mãe falou pouco e foi buscar o meu almoço me servindo na cama. Tudo maravilhoso, do jeito que eu sempre gostei. A ressaca havia passado e para completar o meu domingo, um joguinho de futebol na TV era ideal. Levantei da cama e quando cheguei à sala estavam todos reunidos conversando. Chamei a minha turma para ir para casa e ouvi a voz de minha mãe perguntando:
- Meu filho, porque você tem que ir embora?
A mesma frase, da mesma pessoa, para a mesma pessoa, para situações tão diferentes. A primeira eu não poderia mais atender. A segunda estava em minhas mãos realizar o desejo de minha mãe. Olhei para os seus olhos pidões e decidi ficar. Tudo bem mamãe, vou ficar para assistir o jogo aqui.
O sorriso em seu rosto foi iluminado e ela de imediato disse a todos:
- Então agora eu posso servir o pudim de doce de leite que peguei na padaria.
MEDALHA DE BRONZE EM PROSA - ROSSIDÊ RODRIGUES MACHADO (SÃO VICENTE - SP)
Simplesmente amor
Numa praça, um homem aflito, em prantos, gritando e clamando por socorro. Todo mundo que passava ali próximo lhe ouvindo, porém:
Alguns se comportaram como cegos, surdos, mudos e partiram. Suas lágrimas, sua dor, seu lamento não fez a menor diferença, não os comoveu.
Outros, simplesmente proferiram: não temos nada haver com isto, cada um pra si, cada um que resolva suas mazelas, suas penúrias, suas máculas.
Muitos disseram, deixa este cara pra lá, se for lhe socorrer ainda vai sobrar pra gente, pode é cair na nossa mão uma batata quente.
Alguém deu um de profeta: todo mundo tem seu destino, esse está cumprindo o seu. Se padece é por que tem mesmo que sofrer, é tempo perdido lhe socorrer.
Certas pessoas acharam ridículo um adulto atribulado, apavorado, desesperado. Está é chamando atenção, este mundo tem mesmo gente complicada. Será que este sujeito não tem coisa melhor pra se preocupar, pra se fazer?
Surgiram alguns comentários: deve ser um drogado, um alcoólatra, um desajustado que vive em crise. Rápido! Iremos embora, não merece nossa atenção.
Houve quem ligou a polícia: venha levar um inútil, um desocupado. Problema se resolve, seu rumo é a cadeia, o cárcere! Ninguém aguenta, ninguém merece tamanho atordoamento, perturbação!
Entre tantos, um se aproxima. Calmo, olhar sereno, um leve sorriso nos lábios, num gesto fraterno ergue a mão e lhe cumprimenta, e com afáveis palavras lhe oferece auxílio, pronto para lhe ouvir, colaborar com o que pedia urgência naquele momento de agonia, de agrura, sem se preocupar com o tempo que iria levar e o valor que iria gastar. Simplesmente amor!
O homem lhe fita admirado e emocionado lhe interrogado: Quem é o senhor que ouviu a minha voz, teve compaixão deste que sofre, em agonia, desolado e se prontifica a me socorrer, sanar a minha dor, tornar mais leve a minha cruz? Ouve-se a resposta: Sou Jesus!