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TEXTOS VENCEDORES II CONCURSO OLIVEIRA CARUSO
TEXTOS VENCEDORES II CONCURSO OLIVEIRA CARUSO

 

POEMA MEDALHA DE OURO

Natal (Odyla Pinto de Paiva)

 

É alegre e triste, pobre e rico.

É cheio de surpresas e também de tristezas.

Às vezes falta alguém.

Às vezes tem gente demais...

E o que é Natal?

São múltiplas faces estilhaçadas que nos mostram fragmentos de recordações queridas, mas também fiapos de memórias que gostaríamos de esquecer.

Mesmo com a noite transcorrendo cheia de alegrias, em algum momento, uma lembrança se insinua sorrateiramente e acabamos sendo vencidos, por alguns segundos, pela nostalgia.

Nostalgia de algo ou de alguém.

De algo que foi tão bom e não mais se repetiu ou de alguém que passou e não mais voltou porque não queria ou, na pior das hipóteses, não mais podia.

Natal é o doce e o amargo de toda vida.

É mágico e cruel, mas também é sonho e fantasia.

É o riso da criança e a lágrima do idoso.

É a mesa farta e a fome que corrói aquele que não tem o que comer.

É a fé de que a vida se renova e que tudo tem princípio, meio e fim para depois recomeçar o mesmo ciclo que permite, a todos, a reparação e a construção de uma nova vida cheia de expectativas e desejos.

Natal?

É a esperança de felicidade.

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POEMA MEDALHA DE PRATA

"Mudaria o natal ou mudei eu?... " (Fátima Parente)

 

Quisera fechar os meus olhos e, quando os abrisse,

já estar em um novo ano,

sem passar pela triste noite de um natal dos sem natais,

quando a noite é a mais longa e triste para tantos dos mortais...

De algum modo, era a noite dos ausentes...

A noite Santa é plena das lembranças e saudades daqueles que, outrora, ao redor da grande mesa preenchiam de amor o natal!

Quantas e tantas noites assim vividas, e tão pouco agradecidas... Não quero sem convivas minha mesa, pois de afetos, em pobreza bem mais forte, o é e com certeza, será o sentimento das partidas...Quisera, de um sonho bom, meu despertar e ainda estar à lareira da sua casa de infância, ao calor do crepitar das chamas de amor que se espalhavam, à volta pela cozinha... Ah, o cheiro doce da canela nas rabanadas , a aletria, o leite creme!... Delícias degustadas com tanto afeto!... O pai tão amado!...A mãe,em total azáfama, a cuidar de todos!... E, logo, o repicar de sinos para a missa do galo!... Era noite de natal!...Por essa razão, a neve comparecia em finos floquinhos de algodão que, peraltas, se divertiam a fazer carreirinhos nas janelas de correr...E, então, era o nunca acabar de primos, tios e tias a chegarem para o fraternal abraço na graça infinita do menino Deus, a renascer em todos os corações por se viver mais um natal. Quisera não acordar deste sonho tão sentido, de olhos fechados revivido, que, assim, viveria na ilusão de que o tempo não passou e nada mudou,

E é outra vez natal!...

 

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POEMA MEDALHA DE BRONZE

O outro lado do Natal (Haroldo Pereira Barboza)

 

No rastro da estrela-guia

A noturna bala perdida

Ceifou mais uma vida.

Sonhou com o presente

Pedido a Papai Noel

Não ganhou nem o papel.

Dormiu tendo fé

Pela manhã sua meia

Só continha chulé.

Na vitrine, farta beleza

Dentro do barraco

“Farta” comida na mesa.

Quando ralou o joelho

Lembrou de Papai Noel

Manchado de vermelho.

Bochecha dourada e cheia

Na face do pobre menino

Ilusão do enfeite natalino.

A hipocrisia fere Papai Noel

O vermelho tinge sua roupagem

Mas não macula sua imagem.

Debaixo do pinheiro enfeitado

Deitou e tirou um soninho

Ganhou dejetos do passarinho.

Rasgou o saco vermelho

Imaginando o que iria ganhar

Só encontrou lixo hospitalar.

FIM

 

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PROSA MEDALHA DE OURO

A hora de Papai Noel de Natalina (Roosevelt Vieira Leite)

 

- Minha filha não vá para beira do rio. Você ouviu o que a radia disse.

 

- O que mãe, a radia disse?

 

- Menina, você num lembra não? Nós fumos lá!

 

- Mãe, você tá ficando velha; eu era muito menina; agora já tenho oito anos.

 

- Ah, a fia num lembra não! Encontraram aqui na beira do Rio Real o corpo de um

desconhecido. O coitado estava todo ferido de bala e os olhos comidos pelas formigas

Aqui, nessa região, tem muita formiga mordedora.

 

- Mas mãe, deixa eu brincar mais pra cá, eu num vou para beira não!

 

- Então tá certo pode ir. Maria Natalina fazia a segunda série do ensino fundamental na

Escola Municipal Padre Lemos. A menina nunca conheceu o pai. Sua mãe era rapariga

do cabaré de seu Elifaz; o povo dizia que na casa de Elifaz tinha as melhores putas do

mundo.

 

- Vai pra onde macho?

 

- Rapaz, vou para casa de Elifaz. Chegou uma tal Margarida que é um filé. O filé

de Elifaz era a mãe de Natalina quando tinha 16 anos. Naquela época Campos ficou

apaixonada pela mulher deslumbrante que era a moça de origem baiana vinda de

Camaçari. Seus olhos verdes claros e seus cabelos loiros naturais faziam com a estética

de seu corpo talhado pelos deuses uma mulher muito cobiçada pelos homens de posse.

Por muitos anos ela viveu com muita fartura; não lhe faltava nada; Elifaz fazia de tudo

para que nada fosse esquecido. Seu quarto tinha ventilador, a cama tinha lençol de seda,

e um banheiro com água encanada. Os anos passaram. O sexo ficou mais fácil, e as

putas velhas do cabaré de Elifaz foram trocadas por garotas de programa, muitas delas

agendadas pela internet. As meninas de classe mais ou menos ou de classe média se

esforçam nas academias para agregarem mais valor a seus corpos atléticos e apetitosos.

A pobre menina de Camaçari perdeu a clientela, e puta sem clientela, nada tem mais

para fazer, exceto catar lixo no lixão que ficava a duzentos metros de seu barraco.

 

- Rapaz, quem diria que Margarida ia acabar catando lixo?

 

- É, aqui se faz, aqui se colhe!

 

Natalina voltou do rio às 12 horas. Almoçou o que tinha: Feijão com ovo e farinha.

Margarida se tornara depois do desemprego uma mulher de família. O finado pai de

Natalina era evangélico e ensinou a família a temer a Deus e respeitar aos homens e as

autoridades. A família era pobre, mas, tinha naquela casa algo muito diferente: Mãe e

filha liam os evangelhos; eram pessoas humildes e alegres com o que Deus lhes dera.

 

- Mãe eu queria quer Deus me desse uma boneca bem bonita daquelas que falam e

fazem xixi. Mãe será que se eu pedisse a Jesus ele me daria uma? Margarida sentiu seu

coração bater forte e acelerado. Ela tinha muita vontade de fazer a vontade da filha,

mas, uma pobre mulher sem salário, o que podia fazer?

 

- Filha, entregue nas mãos de Deus!

 

- Sim, mãe, eu vou pedir a Jesus uma boneca tão bonita, mas, tão bonita, mãe, que a

boneca vai parecer real!

 

- Minha filha, Deus existe e ele ouve a prece de um anjinho que nem você. O natal

se aproximava. Tobias estava fervendo de gente de todos os lugares. As doze em

ponto desce na Rodoviária de Tobias Barreto uma senhora branca, magra, andando

com dificuldade. A mulher levava nos braços um embrulho de pano que ora parecia

ser algum objeto, ora parecia ser uma criança. A mulher caminhou pela cidade. Seu

estomago varava de fome. Pensou consigo: “Vou à casa paroquial, quem sabe alguém

me der o que comer”. Uma senhora baixa e gorda com feições de palestina com nariz de

águia a atendeu deixando a porta entreaberta:

 

- O que é?

 

- Eu estou com fome.

 

- Lamento, mas, não temos comida aqui. Vá à secretaria de ação social e preencha o

formulário. Lá eles vão te ajudar. A mulher caminhou até a dita secretaria. Uma moça

de calça cavada mostrando a calcinha e ás vezes os pelos pubianos a atendeu com um

sorriso cheio de material odontológico. O aparelho de setecentos reais ela gostava de

exibir.

 

- Boa tarde!

 

- Eu estou com fome e a menina está também, meu leite secou, a bichinha só faz gemer

quem nem um cachorrinho.

 

- Olha, senhora, a gente não pode fazer nada. Você tem, pelos menos, documentos?

 

- Sim senhora, sou uma cidadã! A mulher tirou do interior de um saco de plástico que

antes fora um saco de pão, a sua carteira de identidade.

 

- Senhora, eu lamento, mas, você é de outro estado, aqui só atendemos pessoas que

votam nessa comarca.

 

- Como?

 

- A senhora tem que voltar para seu estado e pedir ajuda lá. Aqui é Sergipe, você é da

Bahia. A mulher saiu sem rumo, mesmo, sem saber, ela tomou a direção das pedreiras e

por aquelas macambiras ficou.

 

- Mãe, amanhã Deus vai me dar a minha boneca. Disse Natalina.

 

- Minha filha, você orou com fé?

 

- Orei mãe, senti que um anjo estava ao meu lado o tempo inteiro.

 

- Deixa de história Natalina!

 

- Foi mãe, ele disse que era Gabriel. Margarida não levou muito a sério essa parte. A

pobre família tinha uma galinha para assar na noite de natal. Depois do culto, os irmãos

iriam sortear alguns presentes para os pobres da igreja. Depois disso cada um iria para

sua Ceia de Natal, com sua família. O culto não demorou muito, foi uma noite de muita

devoção ao menino Salvador. O sorteio foi realizado; Natalina não ganhou sua boneca.

A menina não se conformava e foi reclamando com sua mãe até chegarem a casa delas.

 

- Mãe, Deus num existe não! Todas as meninas tem uma boneca, e eu filha Dele não

tenho. Ele dá aos que não temem a Ele e eu que temo não tenho nada. Dona Margarida

foi tentar explicar essa lógica divina, mas, não teve sucesso e o inesperado aconteceu.

Natalina teve um acesso de fúria, quebrou uns pratos na cozinha, logo, em seguida

se embrenhou pelos matos. Sua mãe pensou que a menina havia ficado por perto,

mas, quando o relógio deu dez horas, e nada de Natalina, a mulher, ficou apavorada e

chamou o povo.

 

- Será que ela num foi sequestrada por um maconheiro?

 

- Sei não, esse povo gosta de menininha deste tamanho para fazer ritual de magia negra.

 

- Olha, sei não, mas, o povo diz que por aqui aparece um vulto preto de noite. Será o

lobisomem? Muitas eram as opiniões, no entanto, nada de Natalina. O povo gritava

bem alto: “Natalina”. Nenhuma voz respondia. “Estranho!” Pensou consigo o vigilante

Chico – aquele que garante a sua segurança. Enquanto a busca pela moça fica mais

dramática em plena noite de Natal, Natalina desce o Rio Real na direção norte. Era um

lugar desconhecido, somente os caçadores e pescadores sabiam de sua existência. A

lua estava alta naquele Natal. Natalina via quase tudo, ela não sabia de onde vinha sua

coragem. Desceu o barranco do rio, e andou pela sua margem sentido o frio da areia

 

em seus pés. O Rio real faz muitas voltas, e nessas voltas existem pedras enormes,

árvores que tombam para dentro do rio. Natalina se senta em uma pedra achatada em

cima. “Meu Deus, o que fiz foi errado, e agora?” “Minha mãe, vai me bater”. “Mas,

sua pessoa não me deu a boneca”. Enquanto a menina se consertava com seu criador,

ouve-se no mato o choro de uma criança. “O que?” Perguntou em seu íntimo a menina.

O choro se torna mais forte. A menina começa a busca pela fonte do choro. E ele fica

mais forte ainda. As margens dos rios são fonte de alimentos para as jararacas, cobras

corais cascavéis e outras que povoam esses sertões de Campos. Natalina viu uma moita

e pensou ser a lá a fonte do choro. Uma Jaracuçú grande deu-lhe um bote errando o alvo

por um milagre divino. A pobre menininha rezou novamente: “Meu Deus me livra de

meus inimigos e que eu ache onde está o choro”. Após a prece, Natalina percebe que o

vento vinha do sul não do norte, logo, o choro viria do sul trazido pelo vento, contudo,

a menina tinha que atravessar o rio. Natalina foi seguindo o choro para a outra banda

do rio. Ainda na metade do caminho a menina se depara com alguma coisa boiando.

Parecia duro que nem o tronco de uma árvore – era o corpo de uma mulher. O grito da

menina chama a atenção da equipe de busca, todos correm na direção do rio.

 

Natalina acha uma criança recém nascida envolta em panos e com o corpo sendo

mordido por formigas. A criança sofria muito. Natalina pegou a criança nos braços e a

limpou coma água do Rio Real e lhe tirou as formigas. A equipe de busca formada por

populares viram um clarão como se um sinalizador tivesse sido usado.

 

- Juca, ela está ali!

 

- É, veja a luz! Mas como ela conseguiu isso?

 

- O que? Perguntou seu Miguel dentista – “O boca de ouro” – dez reais a extração.

 

- Um clarão sinalizador!

 

A SAMU foi chamada e levaram a criança de Natalina. Natalina foi em uma ambulância

da Prefeitura até o hospital onde fez exames. Quando sua mãe a encontrou caiu

prostrada no chão com as mãos levantadas para o céu: “Meu Deus, muito obrigado

por trazer minha filha de volta”. Ao terminar a oração Margarida ouve o choro de uma

criança recém nascida na enfermaria ao lado.

 

- Mãe, fui eu quem achou a criança. Mas ela num para de chorar. Deixa me entrar lá que

ela conhece meu cheiro. Margarida pediu a dona Soledade para ver a criança achada na

beira do Rio Real. Quando aquele pequeno ser ouviu a voz de Natalina parou os berros.

Os médicos e enfermeiros, junto com todos os presentes encheram os olhos de água; o

relógio da parede bateu meia noite – era a hora de Papai Noel.

 

Tobias se compadeceu da criança e de Margarida. A casa das ferragens deu todo o

material para bater a lage da nova casa da nova família. A Loja Mobileolar doou todos

os móveis que uma casa digna precisa. O Mercadinho “Compre bem porque aqui tem”

garantiu um ano de alimentos para a nova família. A televisão de Aracaju veio fazer

um vídeo sobre a história: “A menina do rio”. O sucesso foi tão grande que Margarida

parou de catar lixo e pôs uma venda ao lado de sua casa. Em Tobias, quando o povo

gosta e abraça uma causa, o povo vai até o fim.

 

- Natalina, onde está Deus?

 

- Sei não, mas, minha menininha sabe.

 

- E sabe fia?

 

- Sim.

 

O corpo da estranha foi enterrado no cemitério da Santa Rita. Ninguém foi; ninguém

apareceu. Diz Augusto, o coveiro, que um vento forte veio do fundo da cova antes de

descer o caixão. Depois, ele ouviu bater a corrente que segura o cadeado...

 

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PROSA MEDALHA DE PRATA

Um presente inesperado... (José Henrique Gomes Gondim)

 

Faltavam dez dias para o natal e após arrumar a árvore e suas bolinhas coloridas, liguei as luzes do pisca-pisca na tomada e minha sala ficou pronta para a chegada do Papai Noel. Ao redor de tanta beleza estavam os inúmeros presentes que toda a família iria ganhar no jantar da boa nova.

Passou-se um dia e eu precisei ir até o colégio dos meus filhos para pegar as suas notas finais e fazer as suas matrículas para o ano seguinte. Com os menores não ouveram problemas. Passaram por média e já estavam conversando sobre os brinquedos que levariam para o verão em nossa casa de praia.

Tal foi minha surpresa, quando fui ver a nota da minha filha mais velha na lista publicada em frente a sua sala de aula, ao lado do seu nome não constava nenhuma nota. Como tinha certeza que ela havia feito a prova, imaginei que por um erro de digitação o espaço reservado para a nota estava em branco. Procurei o professor da matéria e como ele estava de saída me respondeu rapidamente que viesse no dia seguinte conversar com ele.

Como eu havia sido estudante da mesma escola que ela, fui para casa tranqüilo à espera do dia seguinte. Ainda na garagem, dentro do carro, fui abordado por Isadora que numa expressão de ansiedade e medo, me perguntou o resultado de sua prova final. Eu lhe respondi o que havia ocorrido e ela virou-se em disparada e subindo para o seu quarto. Como estava com muitos compromissos para à tarde, não quis conversar com ela naquele momento.

No dia seguinte, fui novamente a sua escola e procurei pelo professor... Um funcionário me falou que ele havia entrado de férias naquela data. Achei estranho e fui procurar o coordenador de sua série. Ao chegar em sua sala me deparei com uma fila muito grande de pais que estavam ali com o mesmo propósito; falar com o coordenador.

Mais uma vez esperei para o dia seguinte e quando cheguei em casa minha filha me abordou da mesma maneira que no dia anterior. Após a minha resposta negativa, ela, desta vez apenas baixou a cabeça e começou a chorar. Percebi que havia algo de errado e lhe perguntei:

- Filha, o que está acontecendo? Sua nota não estava na lista da classe e o seu professor entrou de férias. Você agora está chorando, porque?

Ela não quis me responder... Virou-se e subiu para o seu quarto novamente.

A mãe dela estava viajando e só chegava na véspera de natal para a nossa confraternização em família.

Fiquei muito pensativo e naquela noite não consegui pregar os olhos.

No outro dia pela manhã, acordei cedo e quando olhei para o relógio para ver as horas, percebi que era um sábado e a escola estava fechada. Somente poderia retornar por lá na segunda feira.

Passei todo o sábado pensando como abordar minha filha sobre a sua nota. Confesso que tive medo e decidi deixar para o domingo. Um dia mais calmo e voltado para a família.

No domingo, já decidido, fui até o quarto dela e após sentar em sua cama, percebi que ela estava tendo uma convulsão provocada por uma febre alta. Como sou cirurgião, fiz os procedimentos adequados para um quadro convulsivo e levei-a até o hospital. Chegando lá os meus colegas tiveram toda a atenção do mundo e de imediato foram feitos os exames de urina, sangue, tomografia... Pasmem, nada foi detectado e minha filha encaminhada para ficar em um quarto de repouso por dois dias. Logo após sua acomodação, o médico que cuidava dela disse que o seu quadro era de febre psicogênica. Uma febre provocada por um alto nível de estresse.

Nos dias seguintes eu apenas fiquei ao seu lado no quarto do hospital lhe dando toda a atenção e não me preocupei mais com as suas notas da escola.

Na véspera do natal, eu a levei para casa para esperar a sua mãe chegar de viagem. No trajeto do hospital para nossa casa ela me perguntou de cabeça baixa e com voz trêmula:

- Pai, você foi pegar a minha nota na escola?

Na hora da pergunta eu entrei em pânico... Teria que mentir para ela e necessariamente de forma positiva, afinal, ela acabara de sair do hospital e eu não podia deixá-la triste na noite de natal.

Respondi com voz firme:

- Há filha, nem lembrei de lhe falar; você foi aprovada. Parabéns.

De imediato o semblante dela mudou. Isadora deu um grito de liberdade, como se estivesse preso em seu coração algo que precisasse ser jogado para fora.

Mesmo eu dirigindo, ela tirou o seu cinto de segurança e saltou em meus braços me abraçando apertadamente.

Ao chegar em casa, sua primeira atitude foi correr para abraçar os seus irmãos menores.

Eu permaneci sentado no banco do carro imóvel... O que eu iria fazer? Manter a mentira e fazer o natal dela feliz ou contar a verdade e estragar o natal de todos nós? Preferi escolher a primeira opção.

Os preparativos para a noite de natal continuavam quando minha esposa falou em tom de desespero:

- Amor, o refrigerante não vai dar para todo mundo. Você precisa ir até o supermercado comprar mais.

- Tudo bem querida. Respondi para ela.

Peguei o carro e fui até o supermercado mais próximo, que estava lotado com muitas famílias comprando os últimos panetones que estavam em promoção. Decidi não entrar na fila e comprar os refrigerantes em uma padaria no caminho de volta para casa. Parei em uma delas e pedi cinco garrafas. Quando estava pagando, alguém bateu em meu ombro e me perguntou:

- Você não é o pai de Isadora?

- Sou sim, você não é Professor Jorge?

- Sou eu mesmo. Desculpe naquele dia ter saído com tanta pressa sem puder lhe atender. Eu havia esquecido de colocar a nota de sua filha na lista da classe e estava correndo para ir buscá-la em casa. Ela conseguiu ser aprovada e eu havia escrito no verso de sua prova um bilhete de elogio por tudo que ela conseguiu este ano. Foi uma pena eu não ter podido entregá-lo pessoalmente.

Eu fiquei paralisado. A minha filha havia realmente passado e com a melhor nota da sala e eu não sabia. Eu não precisaria mais mentir para ela. O que fazer agora, naquele raro momento de felicidade? Pensei por alguns segundos e disse ao professor:

- Sei que hoje é um dia concorrido e que você terá um jantar com seus familiares, mas, se quiser ir a minha casa hoje a noite entregar o seu bilhete pessoalmente, Isadora ficará muito feliz.

O professor encheu os olhos de lágrimas e me respondeu:

- Eu não tenho mais família. Há três anos atrás em um acidente de automóvel, minha esposa e minhas duas filhas morreram. Maria Fernanda era a mais nova e a mais velha se chamava Isadora.

Também comecei a chorar e entendi o significado daquela pressa no dia da escola e suas lágrimas naquele momento. Respirei fundo e lhe disse:

- Pois, bem, Professor, nos dê este prazer em recebê-lo em minha casa nesta noite de natal. Você será bem vindo e terá a oportunidade de ler o seu bilhete escrito na prova para toda a nossa família.

O professor agradeceu e naquela noite compareceu em minha casa.

Isadora ao vê-lo ficou surpresa e feliz após receber a cópia de sua prova com o bilhete escrito no verso que dizia:

Querida aluna...

O que menos importa nesta prova é a nota que você realmente tirou. Percebi que você estava tranqüila e segura da matéria que havia caído na prova. Seria fácil para você responder tudo e tirar uma nota dez. Notei também a sua preocupação com a sua amiga Maria Helena que estava sentada ao seu lado, que a cada momento lhe pedia ajuda. Ela precisava de uma nota alta e não teria condições de alcançá-la sozinha. Você deixou de fazer várias questões de sua prova para ajudá-la. Poderia ter tomado a prova das duas e deixá-las reprovadas. Mas, como poderia, se ali estava uma Isadora ajudando uma Maria? Naquele momento lembrei de minhas duas filhas, quando minha Isadora ajudava minha Maria nas tarefas escolares. Por este motivo não publiquei a sua nota. Precisei fazer as suas questões que ficaram em branco para você poder atingir a média. Com sua bondade você aprovou a sua amiga, mas não conseguiu lhe aprovar. Mesmo assim, nunca perca a sua bondade... Procure ajudar os mais fracos que em algum lugar existirá alguém para lhe socorrer nas suas dificuldades.

Obrigado por me fazer lembrar de minhas filhas da forma como lembrei...

Feliz Natal e um ano novo com a mesma ternura.

Professor Jorge.

 

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PROSA MEDALHA DE BRONZE

...e, Nasceu Uma Criança! (Neri França Fornari Bochese)

 

Uma cidade para ser feliz! Ela é interiorana, protegida pelo Vale do Rio Ligeiro, abrindo as asas sobre os morros, são tantos, somam as sete como as famosas colinas.

Na data de 24 de dezembro, a noite já se avizinha, a cidade vai se aquietando. A paz noturna vai se instalando, os insetos com seus sussurros maviosos, com todo o mistério, com a inquietude que as noites trazem expressam o seu cantar num zumbir especial. A natureza, a vida, se protege. Um descanso para a reposição das energias, depois o alvorecer com todo o esplendor.

No pronto atendimento, em um dos dois hospitais da cidade, nada de novo, poucos casos para emergência, promete ser uma noite especial. . .

Uns passos vagarosos, ansiosos a moça levanta a cabeça, em sua frente se apresenta um casal, mostram-se preocupados, ansiosos, cheios de receio, o que é natural pela situação que estão vivendo. Jovens ainda, ela grávida, em trabalho de parto, o primeiro filho.

A plantonista começa o interrogatório:

- Nome do pai:

- José da Silva.

Eles não são moradores da cidade, vêem de longe, estão apenas de passagem. O destino é outro.

- Qual o plano saúde de vocês?

A pergunta temida. Eles se entreolham.

- Moça, não temos, não, nenhum seguro.

- Então, eu preciso que vocês deixem um cheque, como garantia. Diz a enfermeira. E, acrescenta:

- Se o trabalho médico, somando as despesas hospitalar, custarem menos, devolveremos a quantia correspondente.

O pai se adianta:

- Não temos esta quantia! O que disponho só dá para pagarmos o ônibus de volta para a nossa cidade.

- Como?? Esperando neném, não fazem uma reserva? A casa hospitalar tem as suas normas, eu só cumpro ordens. Não posso interná-los. Resposta já decorada, tradicional.

A enfermeira levanta os olhos, presta atenção no casal. Existe alguma coisa de grandioso neles. Parece uma harmonia, um pouco fora dos padrões terrenos. Uma luz os ilumina, os envolve, vem não as sabe de onde, preenche toda a sala. A jovem mãe se contorce com as dores, cada vez mais fortes, mas não geme não se queixa. O pai a ampara carinhosamente, fazem menção de saírem. Não há alternativa.

Pensa a enfermeira:

- É melhor para eu deixá-los irem embora. Não me comprometo, não complico o meu trabalho. Só que eu sei que o outro hospital não está de plantão, esta criança vai nascer a onde? Com certeza, vai ser na rua, embaixo de uma árvore, talvez num banco da praça.

Numa decisão rápida, resolve:

- Vou acolhê-los. Vou registrá-los como indigentes. Assim pensou, assim fez.

Encaminha os dois para a enfermaria. A mulher é preparada, O médico é avisado, para espanto da plantonista, não questiona, vai desempenhar o seu papel social, o mais humano dos trabalhos, ajudar uma criança a nascer! Recebê-la carinhosamente neste mundo de Deus! Até o pediatra esta disponível, é encontrado com facilidade, sem perguntas, entra na sala cirúrgica.

Interessante! Um quadro diferente se apresenta. Faz-se um momento sublime. Todos ali acostumados com este atendimento percebem algo diferente, sem saber explicar, é o coração em ação, ele dá sentido ao momento. Uma Luz invade o local, não é forte, mas se faz percebida. Com um brilho diferente, até uma música suave invade o local, o encantamento é palpável.

Pergunta o médico para a mãe:

- Qual o seu nome?

- Maria, responde ela, com uma voz segura, quase angelical.

- Engraçado! Pensa, o pediatra, em voz alta.

Olhando para o relógio, diz:

- É meia-noite.

Lá fora os sinos tocam. A magia é contagiante. A criança nasce e, diferente das demais, sorri para todos os profissionais que ali se encontram. Eles se entreolham, têm a certeza de que estão sendo abençoados. Sentem que aquela criança traz uma mensagem de Paz, de Amor para a humanidade. Só é preciso, ter boa vontade por parte dos homens. Entender, praticar, ser fraterno.

A mãe, a criança recém nascida são transportadas para o quarto. O pai as recebe com muita alegria, com confiança nos desígnios divinos. Parece saber o que ia acontecer.

Na manhã seguinte, a família passeia pelo hospital, cumprimentando a todos. As crianças, na realidade são as primeiras a perceberem o Bem, se encantam com o recém-nascido, o acolhem carinhosamente, por um momento as dores sentidas, diminuem se tornam suportáveis. Muitos males até desaparecem. A tristeza que é a tônica de um hospital sede lugar para a alegria, para a esperança! Vale à pena fazer o Bem! Acolher o outro, o necessitado, é a essência do bem viver! O perfume da vida!

O casal recebe alta. A casa hospitalar se alegra, há harmonia, o bem estar permanecem.

A felicidade custa tão pouco. Precisamos apreender servir a todos como irmãos. "Amai-vos uns aos outros assim, como Eu vos amei"Jo13,34

Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.

Feliz Natal.

 

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