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TEXTOS VENCEDORES DO I CONCURSO OLIVEIRA CARUSO
TEXTOS VENCEDORES DO I CONCURSO OLIVEIRA CARUSO

 

TEXTOS VENCEDORES DO PRIMEIRO CONCURSO LITERÁRIO "OLIVEIRA CARUSO"

05:55 PM, 2/11/2011 .. 0 comentários .. Link
NUNCA DESÂNIMO...
 
 
- Estamos aqui reunidos para tratar de um assunto de extrema importância e máxima urgência! Um verdadeiro escolho aos nossos legítimos interesses. – Havia apenas mais três integrantes nessa reunião. Por isso, a altiloquência da mediadora era um tanto desnecessária.
            - Eu detesto quando ela começa com essa “ladainha ufanista”. – Comentava Marte com o parceiro da direita e a baixa voz.
            - Ora, ora... Desde o último embate entre vocês, lá em Tróia, que você detesta tudo o que diga respeito a Minerva. – Respondia Ares, o seu equipotente grego, no mesmo tom e com picardia, relembrando ao deus da guerra sangrenta a derrota dos seus protegidos, face à epopeica vitória dos exércitos resguardados pela deusa da guerra justa.
            - Quietos! A hora é de somarmos forças e não de nos dividirmos. – Cariocecus, o deus lusitano da guerra, interveio e pôs fim à quase celeuma. Minerva continuou:
            - A humanidade cada vez mais se une em torno do pacifismo... E isso tem que ser revertido. Onde, o nosso proveito? Onde, o nosso prazer? – E a camarilha concordava em uníssono.
             - É notório que os movimentos a favor da paz estão se organizando dia a dia e por toda a Terra. E, o que é pior, ampliam os seus tentáculos por meio das mais variadas formas, indo de discursos empolgantes, passando pelas passeatas e chegando à solta de balões brancos. – Prosseguia Minerva, em seu introito.
- Ora, não sei por que tanto alarido – desdenhava a divindade lusitânica. Quero recordá-la de que nunca abandonamos os nossos postos. Aliás, lembra de Heráclito? Pois não foi você, Ares, que bem soube deturpar a Luta dos Contrários, levando os contemporâneos do filósofo e os que se lhes seguiram a justificarem a guerra, pois dela resultariam a harmonia e a justiça?
            - E olha que nem precisei de sacrifícios humanos para me estimular. – E os três riram a breve tempo, lembrando os prisioneiros que, volta e meia, eram ofertados a Cariocecus.
- Não questiono, aqui, os nossos feitos pretéritos – intervinha Minerva –, mas coloco à prova o nosso futuro, a nossa sobrevivência! – De repente, o silêncio se sobrepôs aos gracejos... e a circunspecção tomava conta das mentes beligerantes. Passados alguns segundos, Marte questionou:
            - E o que mais poderíamos fazer para atacar essa onda pacifista? O que sugere?
            - “Uma grande parte dos males que atormentam o mundo deriva das palavras”, disse Burke certa vez. Ora, lembrando que, na atualidade, praticamente não há mais fronteiras para a literatura, já pensaram no malefício que faríamos se conseguíssemos minar os espíritos de quantos tentam usar a palavra escrita em prol da paz? Ataquemos os escritores, e o estrago se multiplicará.
            - E por acaso essa ideia é original? Também quero lembrá-la, oh querida irmã, de que jamais negligenciamos essa área do pensamento humano; tanto que bem soubemos inspirar muitos autores. Aliás, já que hoje estamos para as citações, recordo o americano Oliver Wendell Holmes: “A guerra é a cirurgia do crime. Por má que ela seja, significa sempre a extirpação de qualquer coisa pior.” – Marte não perdia nenhuma oportunidade de alfinetar a rival.
- E eu, o brasileiro Tobias Barreto: “Cada guerreiro que por nós combate é a ira de Deus que se faz homem.” – complementou Ares, aderindo à zombaria.
- Sempre a impulsividade sobrepondo-se à racionalidade... Não quis fazer alusão a esse ou àquele escritor, propriamente dito. Referia-me ao Concurso Mundial de Cuento y Poesía Pacifista, e que, pelo que fui informada, ganha adesões a cada minuto.
- Esclareça melhor o seu plano, Minerva. O que você pretende realmente? – Carioceus falava por todos.
            - Eu explico: é notório que as palavras, sobretudo as escritas, sempre foram mais fortes do que as espadas ou canhões. Chegam a milhões e se perpetuam na história. Ora, indaguei a mim mesma, como contra-atacar os nossos inimigos e conseguir com que sejam derrotados?
            - Como?! – Perguntaram, a uma só voz, os três armipotentes.
            - O segredo está em convencer-lhes os espíritos de que são incapazes de mudar o ser humano. De que seus esforços, suas palavras serão sempre inúteis; uma luta em vão, uma tola utopia. – Um leve sorriso, misto de maquiavelismo e prazer, formava-se espontâneo nas fácies bestiais.
            - Agora entendo aonde quer chegar, Minerva. Tratemos de convencer os participantes de que são impotentes diante da beligerância inata dos mortais e esse concurso será o maior fiasco de todos os tempos! – Era a primeira vez que Marte concordava com a parenta.
            - É claro!... Com isso, toda a Terra reconhecerá que, se até seus poetas e prosadores deixaram-se levar pelo desânimo, do que valeria ao povo que os toma como exemplos perseverar no ideal pacifista? – Ares somava-se em entusiasmo.
- Brilhante, oh deusa da guerra diplomática! É como eu sempre digo: as boas ideias se revelam simples e eficazes. Sendo assim, proponho um brinde – e a potestade lusitana levantava a taça –: ao malogro desse concurso!
- Ao malogro! – E beberam, e riram, e celebraram por toda a noite.
            Era preciso agir rápido. Cada divindade ficou encarregada de atuar em uma parte do globo. Marte, por exemplo, não abriu mão das Américas; Cariocecus, de toda a Europa... Minerva e Ares não se opuseram e dividiram o restante de comum acordo.
            No dia seguinte ao refestelo, e mesmo sob a viva lembrança de Baco que bem lhes pesava ao raciocínio, os potentados partiram com seus exércitos rumo às casas dos concursandos. E o cerco teve início, implacável, impiedoso...
            - Ah, como é nobre a sua intenção. E quão bela a sua veia artística! – Comentava Ares, consigo, junto a uma promissora poetisa. – Pena que tudo farei para tolher-lhe o ânimo. Que tal...? as últimas investidas da Coréia do Norte? Lançam uns mísseis aqui, outros ali... e a boa e velha Guerra Fria está mais viva do que nunca.
            - Vejo que seu conto está prestes a acabar, pretenso aprendiz de best-seller. – Sussurrou Marte, em tom desdenhoso, a um romancista consagrado. – Quem sabe eu possa desencorajá-lo, enfatizando que o homem continuará a não dar ouvidos à história, pois os campos de concentração, que pensavam estar para sempre enterrados, ainda ardem nos corações bósnios, face ao extermínio perpetrado em Srebrenica?
            - Nada como reinar aquém da Taprobana... – Cariocecus deleitava-se ao regressar a Lisboa. Nunca se desapegara do seu antigo Condado Portucalense... – Percebo vigor e idealismo neste jovem ensaísta. Seu currículo só tende a florescer. Bem... que tal se eu o lembrar do comércio escravagista que os nossos patrícios desenvolveram? Ou então... Dos arbítrios que seu avô salazarista cometeu? Certamente essa breve retrospectiva o envergonhará e o desalentará, pois o levará a crer que os mortais continuarão a se chafurdar no erro, século após século, mesmo que admitam a história como uma espiral ascensional.
            - Que otimismo na terceira idade! Não pensei que chegando aos oitenta e dois anos ainda houvesse esperança dentro desse coração velho e cansado. Quer dizer que a literatura infantil é o seu passatempo? Curiosa coincidência... pois o meu é, justamente, desvirtuar a juventude! – Nunca viram Minerva tão pérfida! – Vejamos... Idade provecta, vida sofrida... Pois eu pergunto, senhora, se tem tão pouco tempo de vida; se viu guerras e até viveu comoções intestinas... será que ainda há tempo para ensinar algo de bom aos pequeninos, pois, mais cedo ou mais tarde, engrossarão as fileiras de soldados, revolucionários ou terroristas?
            E os meses foram passando... A cada dia, os comandantes divinais eram informados por seus generais sobre as investidas aos participantes do concurso. Romancistas, poetas, contistas, sonetistas, ensaístas, novelistas... todos os que, com sua arte, procuravam contribuir para a prosa ou para poesia pacifistas eram acossados das mais variadas formas; nunca olvidando dos objetivos e dos meios traçados por Minerva. E toda vez que o quarteto divino se reunia para avaliar a ofensiva, era difícil saber qual deles cantava maior vantagem sobre o outro. Os semblantes, no entanto, camuflavam a realidade dos fatos, escamoteando-os nos torreões do orgulho...
E o concurso continuava... e por mais que os deuses guerreiros afirmassem que os resultados que obtinham eram satisfatórios, ou que os relatórios apresentados por seus comandados fossem, como diziam, positivos, o número dos participantes não diminuía; pelo contrário, mais e mais escritores se inscreviam!
- Eu não consigo entender o que aconteceu! – bradou Marte num arroubo de cólera, pois que encantoado pela angústia. Mas antes que algum dos demais ousasse uma justificativa, um general se aproximou e disse:
- Oh altipotentes, um nosso espião conseguiu uma cópia de um dos poemas finalistas. Tentará nos enviar o outro, bem como o conto selecionado, assim que a oportunidade lhe for favorável. – E o entregou à mentora belicosa.
Minerva estava trêmula e envergonhada; muito distante da genialidade que um dia inspirara Odisseu a imaginar um grande cavalo de madeira... Ares, então, tomou-lhe o papel e, em voz alta e pausada, começou a ler um soneto.
E a cada verso, em que se entrosavam perfeitamente decassílabos e alexandrinos, mais um quê de originalidade, revelava aos demais que o esforço que tanto despenderam, esse, sim, tinha sido em vão:
 
                                    Um só caminho.
 
Em meu reino, de onde posso tudo ver,
                                   conta bendita a que me doei,
                                   só vejo a luz que de mim criei,
                                   nunca desânimo, em que não quero crer.
 
                                   E se muitos há que te levam a arder,
                                    pecadores por quem sempre roguei,
                                   avatares alhures enviei.
                                   Segue-lhes os passos! Isso, sim, é viver.
 
                                   Mas o homem insiste em se desviar...
                                   e não se detém. Conquista; mata; erra.
                                   Enloda-se no poder que o faz cegar.
 
                                   Destarte, retorna ao pó pela guerra...
                                   Mas, não duvides, nasceste para amar.
                                   Faze, pois, o que te cabe! Paz na Terra!
 
(JOSÉ LUIZ DIAS CAMPOS JÚNIOR)
 
 
 
 
                                                                                   
HEMATOFAGIA
 
Teobaldo chegou ao cemitério carregando consigo as ataduras que cobriam os ferimentos espalhados pelo seu corpo. Os ferimentos tinham sido resultado de uma noitada de bebedeiras, farras e, mais tarde, a direção do seu próprio carro em alta velocidade. Coisas que todo mundo sabe que não combinam.Tinha apenas vinte e oito anos e estava na flor da idade.No cemitério, recebeu uma recepção calorosa como acontece com todos os novatos. Uma fila de almas acolhedoras dava as boas vindas àquele rapaz tão simpático que, a partir daquele dia, iria se juntar a eles no mundo dos esquecidos.Passada a euforia do primeiro encontro, o rapaz foi apresentado a um homem que estava sentado atrás de uma mesinha escrevendo alguma coisa em um grande livro.- Como vai, Teobaldo? Disse o homem ao rapaz. Permita apresentar-me a você. O meu nome é Exímio. De agora em diante serei o seu Mestre na sua nova jornada. Fui designado por meus superiores para ajudá-lo a cumprir o restante de sua missão na Terra, que você por negligência deixou inacabada. De acordo com os meus cálculos, você deveria viver mais trinta anos. Isso significa que, se morreu antes da hora, ainda deves esses trinta anos ao seu Criador. Como deseja cumpri-los?O rapaz ficou olhando para aquele homem sem saber o que falar. Ainda estava com as lembranças do seu acidente na memória e tentava se encontrar naquele lugar estranho. Não havia se dado conta de que estava morto. Percebendo a perplexidade do jovem hóspede e na intenção de encorajá-lo, o homem lhe disse que não tivesse pressa em responder a pergunta.- Pense bastante, Teobaldo! Quando tiver a resposta venha me dizer para que possamos tomar todas as providências necessárias ao seu retorno.O rapaz, que até então pensava tratar-se de um sonho, resolveu tirar vantagens da situação.Enquanto caminhava pelas ruas do cemitério, começou a pensar em todas aquelas moças bonitas que via na televisão, nos filmes e achou ter encontrado uma brilhante idéia.Correu até o seu Mestre e lhe respondeu rapidamente:- Mestre, eu já sei como quero retornar. Quero voltar para a Terra como um ser hematófago!- Tem certeza? Não quer pensar mais um pouco? Não se pode tomar uma decisão tão importante como essa de qualquer maneira. Você precisa pensar para não escolher a opção errada. Acabou de chegar aqui, pense bem!
- Não, Mestre, não preciso pensar mais. Já fiz a minha escolha; quero retornar a Terra e cumprir os trinta anos que me restam como um ser hematófago. Mande-me de volta que eu não quero perder nem mais um minuto.- Se é assim que deseja, é assim que será! Assine este livro e se despeça das almas, pois você irá retornar agora mesmo.Mais que depressa, Teobaldo despediu-se do pessoal no cemitério e começou a sua viagem de volta.Quando abriu os olhos e viu que estava na Terra, deu um suspiro aliviado:- Nossa, que sonho maluco! - Disse a si mesmo. Vou me levantar e sair para tomar um ar fresco; está muito abafado aqui.Quando se levantou, Teobaldo viu que não andava. Começou a bater umas asinhas minúsculas e a voar de um lado para outro. Só então percebeu, que aquilo tudo não tinha sido nenhum sonho. Ele realmente havia morrido e,agora retornava a Terra na forma de um inseto. Desesperado, olhou a sua imagem refletida na água e gritou por socorro:- Mestre! Gritou o rapaz. - O que está acontecendo comigo? Você deve ter se enganado em alguma coisa; eu desejei ter retornado como um ser hematófago e não como um pernilongo!- Teobaldo, disse o seu Mestre, o pernilongo é um ser hematófago; vive de sugar sangue.- Mas não é isso o que eu queria, Mestre! Quando eu pensei em hematofagia me referi a um belo vampiro como aqueles dos filmes que seduzem mulheres bonitas para levarem ao seu quarto e, depois de uma noite de amor, ainda se alimentarem do seu sangue. E não este inseto horrível que eu me transformei. Quem irá querer alguma coisa comigo sendo feio desse jeito?- Sinto muito, Teobaldo! Eu lhe avisei; sabia que iria se arrepender de ter tomado uma decisão tão precipitada. Por isso o aconselhei a pensar mais um pouco. Saiba que os vampiros são seres lendários e só vivem para sempre nos filmes. Se a sua intenção era essa, se enganou completamente. Todos os seres hematófagos são seres vivos e também morrem. A minha função como seu Mestre é de apenas aconselhá-lo e não interferir na sua decisão. Se você tivesse esperado mais um pouco poderia pedir a opinião das outras almas que o receberam no cemitério e teria a chance de escolher outra coisa. Além do mais, você já assinou o livro das almas concordando com a sua atual condição. Agora, tudo o que eu posso fazer, é pedir para você ouvir o meu conselho ao menos uma vez. Preste atenção:- Arrume uma bonita pernilonga para ser a sua companheira, porque você tem uma longa jornada pela frente. - Bonita? Já andei dando uma olhada por aí e elas são horríveis. Elas tem os olhos esbugalhados, pernas finas, aquele bico enorme, por favor Mestre leve-me de volta ao cemitério! - Não posso rapaz, você escolheu assim! Conforme-se com a sua condição, pois poderia ser muito pior. Você poderia voltar na forma de um horrível morcego cego ou de uma pulga e viver trinta anos morando nos pelos de um cachorro. Como um pernilongo você tem o privilégio de enxergar e possuir asas para voar aonde quiser. Nesses trinta anos que ficará na Terra como um inseto, poderá viajar e conhecer o mundo inteiro. Agora deixe de choradeira que eu preciso trabalhar. Tem uma fila de almas esperando para falar comigo. Boa sorte, Teobaldo, até daqui a trinta anos!Depois de ouvir as explicações de seu Mestre, o pobre Teobaldo tratou de se conformar com a sua nova condição e começou uma jornada como sugador de sangue, sendo odiado pelas pessoas que até hoje os perseguem com inseticidas, repelentes, tapas e muitos xingamentos.Saiu pelo mundo desejando nunca ter desejado. O arrependimento que sentia dava raiva de si mesmo. Pensava em sua pressa, nos filmes de vampiros que assistia e no seu desagradável aspecto físico.Seu estômago de pernilongo roncava mais que um trator. Então, não viu outro jeito senão sair por aí a procura de alimento.Olhava por todos os lados, mas seu modo enjoado de se alimentar o tinha acompanhado no mundo dos mortos. Quando era vivo, sua adorada mãezinha separava os caroços da melancia, fritava os ovos de maneira que ficasse uma casquinha crocante e a gema molinha, mas não queimado. O feijão? Era só caldinho. Não comia verduras e a carne era sempre bem passada. Agora, estava prestes a provar o sangue como alimento.Teobaldo já havia andado mais de meio dia sem ter nada no estômago.  Como não tinha relógio baseava-se na posição do sol. E, a estas alturas, já estava com as perninhas bambas. De repente, avistou no meio do mato um tatuzinho que corria em direção ao buraco. Não pensou duas vezes. Bateu asas em direção ao tatu e ferrou o bico no pescoço do bicho. Imediatamente sentiu seu estômago se encher e não podendo mais com o seu peso, caiu de cima do tatu que corria balançando a cabeça.Ficou estirado no chão em transe por alguns minutos e depois voltou a recuperar a consciência. Saiu babando e numa cuspideira com nojo de seu bico.- A que ponto eu cheguei! Dizia para o vento. – Beber o sangue de um tatu.Não tinha coragem para sair de onde estava, nem de voar. Estava deprimido. Do além, o Mestre observava em silêncio as atitudes do pernilongo.Debruçado sobre uma pedra, o pernilongo começou a pensar nos seus dias de vida como ser humano, na família, amigos, emprego e coisas que nunca se tinha dado conta da enorme importância. Nunca tivera uma namorada ou alguém de que ele se importasse. Nas baladas, beijava muitas moças ou ficava com várias, sem ter na verdade nenhuma delas. Estava sozinho como sempre fora. Então, desejou pela primeira vez uma companhia estável. Não queria passar os trinta anos como um pernilongo solitário. Levantou-se de onde estava e voou observando todos os insetos e animais do campo. Ficou algumas horas perguntando a si mesmo qual deles era também uma alma cumprindo os dias restantes. Aproximou-se das formigas, mas logo percebeu que elas eram realmente insetos, pois o repeliram rapidamente. Tentou as abelhas, mas quando viu o ferrão vindo em sua direção saiu voando em disparada. Por último, sem esperança, tentou as borboletas. Achava que nunca iria conhecer ninguém, mas ao se aproximar ouviu que elas conversavam entre si. Contente, o pernilongo começou a falar com elas feito uma matraca. E elas fugiram assustadas daquele maluco.- Não fujam, eu sou humano também! - Gritava desesperado voando atrás das borboletas. De repente, escutou alguém chamando por ele também. Era um pássaro. Teobaldo olhou em cima de uma árvore e lá estava ele. Um passarinho que falava. - Por que está assim tão afoito, amigo? Aqui não adianta ter pressa. - Dizia o pássaro. Sabe que os pássaros comem insetos, não sabe?- Sinta-se à vontade, amigo! Se você me devorar estará me fazendo um favor. - Nossa, que baixo astral! Indagou surpreso o passarinho.-Olhe para mim, amigo! Veja que horrível figura. Eu era bonito quando vivia. Mas como todo jovem, nunca pensava que um dia pudesse envelhecer, ou ficar gordinho ou careca. Trabalhava duro, mas gastava todo o meu salário com bebedeiras e rachas. Nunca fiz uma viagem, nunca namorei uma garota, nunca gostei de ninguém. Achava que tudo era festa na minha vida. Só pensava em mim mesmo. Não me preocupava com nada. Agora estou morto, sozinho e arrependido. Como posso ficar feliz tendo que viver assim por trinta anos?O passarinho soltou uma gargalhada.- Quem te disse que são trinta anos? Um pernilongo só vive por vinte e quatro horas. E, no seu caso, só alguns segundos pois vou devorá-lo agora mesmo.Enquanto o Teobaldo ouvia as explicações do passarinho apareceu em sua frente o Mestre e uma pernilonga que sorria para ele.- Mestre, o que faz aqui?- Vim levá-lo de volta ao cemitério. Seu tempo de pernilongo está terminando.- Mas e os trinta anos que me falou? Você mentiu, Mestre!- Menti com boa intenção. O Criador o sabe! Deveria acontecer com você exatamente o que aconteceu. Refletir sobre a sua vida desperdiçada na terra e se arrepender. Felizmente você se arrependeu rápido, antes do prazo terminar. Veja, esta é Mayra. Está como pernilonga há um mês, pois as fêmeas vivem mais, e irá voltar com você. Este passarinho, nada mais é do que o meu auxiliar no cuidado com as almas. Ele viu o seu arrependimento e me avisou. Você, de agora em diante, irá trabalhar com ele. Irá viajar pelo mundo afora encontrando almas arrependidas para trazê-las de volta. Viverá como alma e não como inseto. Agora, vamos depressa.Em questão de segundos, Teobaldo viu-se transformado em uma alma humana e cercado de amigos no cemitério. Viu também, aquela pernilonga transformar-se em uma linda alma de mulher. Agora, estava contente e pronto para receber orientações do Mestre na sua nova carreira, pois tinha aprendido a ser paciente, a pensar antes de agir e dar o devido valor às coisas que possui. Mesmo na sua nova condição de ser um humano morando no além para sempre. Agora, Teobaldo vivia como um morto feliz.Fim
 
(IRONI LÍRIO)
 
 
 
 
Prosear com meu avô
 
Era um tempo em que não havia ainda se instalado no espírito humano a pressa. Tanto os dias como as noites se sucediam tranqüilamente.
Em uma colina toda verde, onde a paisagem era emoldurada pelo céu azul. A sombra de um pé de embuia tendo por vizinho um majestoso pinheiro, duas criaturas, um senhor de idade e uma criança conversavam alegremente:
- Sabe, que quando eu tinha a tua idade toda esta região era coberta pela mata de araucária. Nós, eu e outros guris, todos meus amigos percorríamos essas trilhas, nelas encontrávamos as tocas dos tatus, caçávamos, tomávamos banho nos riachos e ainda brincávamos nas cachoeiras de águas cristalinas.
- Eu tenho uma curiosidade, é verdade que por alguns desses caminhos percorriam os índios? Diz a minha professora, que eles moravam nas aldeias em Guarapuava, também em Palmas onde mantinham um refugio tranqüilo até 1836, quando chegou o Padre Ponciano José de Araújo que fazia parte da Bandeira de José Ferreira dos Santos. Nas suas andanças de um lado para outro, buscavam o convívio entre as tribos, pois pertenciam todos a mesma nação indígena como também a caça que era farta buscavam as variedades de cada localidades. Eles já eram seminômades.
- A tua professora está certa, o meu avô contava que quando ele era um jovem ainda, ele presenciou o índio Vitorino Condá levar os seus homens valentes guerreiros, de uma reserva para a outra. O cacique Veri foi outro herói desta região, ele era amigo do meu avô. No Sudoeste temos duas cidades que homenageiam estes índios.
Ele, o meu avô sempre me dizia que devíamos aprender com eles, a caçar, assar a carne, zelar pela natureza. Os índios abriam um buraco no chão, faziam o fogo, assim o brasido depois que capivara, os bagres, os lambaris tivessem assados, não se espalharia pela floresta. Com eles aprendemos a tomar o chimarrão, assar o churrasco, tomar banho todos os dias, dormir na rede, conversar nos finais de tarde...
Os dois puxaram um dedo de prosa por longo tempo. O avô do menino contou a ele que ali por perto passavam os tropeiros. Os homens com os seus cavalos bem aparelhados conduziam o gado de Viamão, no Rio Grande do Sul tropeado até São Paulo. O gado de muares, também cavalos e alguns vezes de bovinos que eram xucros, muitas vezes davam trabalho ao madrinheiro da tropa.
Um dos tropeiros contou para o meu avô que numa tropa em que ele era o capataz, havia um dos animais que não se enquadrava, era bravo, metido a valente, enfrentava os cachorros, os peões, machucava as rezes mais nova, foi preciso sacrificá-lo para poder tropear em paz, evitando assim o estouro da boiada.
Os tropeiros eram esperados com uma certa euforia, eles eram quem traziam as noticias dos lugares por onde passavam, com certeza foram os jornalistas da época, não esquecendo que foram os primeiros radialistas, as ondas amigas a relatarem as novidades quebrarem a monotonia dos dias sempre iguais.
Não era só o gado que não gostava às vezes de seguir adiante, manter-se a caminho. Alguns vaqueiros cansados da jornada também empacavam desistindo de continuar na lida campeira. Construíam um rancho, começavam uma pequena roça. Numa queda d’água faziam um monjolo para ter a quirera, para descascar o arroz, socar a erva, logo outros tropeiros ou os caboclos a eles se ajuntavam começava assim uma villa. Muitas das cidades do Paraná surgiram dessas paradas de tropeiros.
Quando ajuntavam um certo número de moradores entorno da picada construíam uma igrejinha, um capitel na linguagem dos imigrantes italianos ou erguiam apenas um Cruzeiro, um marco para a povoação. Passado algum tempo o Cruzeiro dava o sinal. Se brotasse era o sinal dos céus que ali seria um bom lugar para morarem. Teriam sucesso. Caso contrário se os galhos com que montavam o Cruzeiro fenecessem era um aviso de mau agouro. Erguiam a morada e saiam em busca de novas paragens.
As famílias precisavam de companhia, por isso ajudavam-se entre si construíam os ranchos, faziam as roças, as colheitas todos juntos eram os puxirão. Quando um matava um porco ou gado, que era sapecado nas grimpas, embaixo dos pinheirais, para depois ser tirado o pêlo, repartiam a carne fresca entre os vizinhos. Como os índios, eles mantinham sempre o fogo aceso colocavam uma tora inteira para ser consumida pelas chamas. A água estava sempre quente
Outro povo, que por aqui passou foram os argentinos. Eles com certeza são os primeiros empresários do Sudoeste. Construíam os barbaquas, sempre onde houvesse uma boa aguada. Transportavam erva-mate cancheada, carregada nos cargueiros, nas bruacas ou em carroções, até a outra margem do rio Paraná.
Uma coisa interessante que todos estes fatos, lá pelos idos dos anos 20 do século passado, quando os argentinos que cancheavam a erva–mate, os caboclos, os primeiros moradores deste sertão, sendo eles também os primeiros brasileiros, filhos das índias ultrajadas e, dos bandeirantes portugueses. Somado aos paraguaios, que detinham o saber de como podar as ervateiras, tinham o conhecimento da técnica de cuidar, de como, de que galho que podia ser cortado para que a erva não fosse amarga, para que o pé-de-erva brotasse com vigor para a coleta do próximo ano.
Três países: Brasil, Argentina e Paraguai, vivendo e convivendo de forma pacífica, sem muita necessidade de fronteiras, nem de passaporte para irem e virem misturando o linguajar castelhano, guarani e brasileiro, os seus costumes.
- Sabe vovô, que um dia destes, eu li no meu livro de aula que o Mercosul começa com estes países e mais o Uruguai que é um país nosso vizinho, logo ali, depois do Rio Grande do Sul. Então, pensei o Mercosul não é invenção dos governos atuais. Já estava enraizado na memória do povo, que o vivenciou antes mesmo de que alguma lei fosse inventada e editada.
- Eu gosto de conversar com você, meu guri, porque sempre sabes mais alguma coisa para acrescentar na nossa prosa. Que bom que você gosta de ler!
O Mercosul faz parte da história de desenvolvimento desta região, também não podemos esquecer que o mate, as crinas de cavalo, o mel, as peles de animais e mesmo os animais silvestres eram vendidos para a Europa, levados a cavalo e depois de navio através do rio Paraná, e da bacia do Mar Del Plata.
- Mas vovô, não é proibido caçar animais e vendê-los para outros países? Pobre dos papagaios, das pacas, das lebres e tantos outros bichinhos que foram tirados do seu habitat, levados para países distantes.
- Hoje não se pode e não se deve mais fazer isto. As Leis Ambientais cuidam, protegem a nossa fauna, mas cem anos atrás a visão das pessoas era outra. Também porque na época havia muitos animais. Não podemos julgar os fatos da história apenas com o conhecimento dos dias atuais, cada tempo tem uma forma de se entender, de se fazer às coisas que rege o nosso jeito de viver, de sentir do homem para que ele possa se integrar em harmonia com o ecossistema.
- Vô, eu não entendi o que eles faziam com as crinas de cavalo? Para que serve? Mandar pêlo daqui para a Europa... porque o açúcar era raro, como adoçavam os chás?
- O mais interessante do fato era que roubavam as crinas dos animais, que estavam solto nos potreiros ou mesmo amarrado no palanque que sempre estava perto da residência. Este fato serviu para cada sururu, entre os primeiros moradores, valeu algumas mortes e muitas inimizades.
-    Mas vô...
-    Calma, não esqueci da tua pergunta.
A crina e mesmo os outros pêlos tinham uma utilidade importante. Faziam com eles, pincéis também aqueles redondos de se barbear. O pincel absorvia a espuma feita mesmo com sabão. Para os objetos mais delicados usavam o pelo de outros animais silvestres. Cada tempo com as suas facetas muito diferentes dos dias atuais. Para adoçar era preciso encontrar o mel silvestre ou o melado, isto é quando tivesse a moenda na localidade.
Deixa eu te contar um pouco mais daquilo que aprendi com os homens mais velhos que vivenciaram e fizeram a história no seu tempo. Quando os carroções levavam a erva cancheada para a fronteira, na volta para as nossas villas, eles traziam a querosene, a farinha de trigo, o açúcar que era um luxo, tecidos, remédios, louças, água de cheiro, brilhantina. As bodegas, como eram chamadas as casa comerciais vendiam estes produtos. As vendas eram quase sempre em forma de troca, pois dinheiro era coisa rara. Faziam o escambo como os homens lá dos primeiros tempos da humanidade..
As lamparinas quando não tinham mais querosene ou não podiam comprar, queimavam a banha de porco, que fazia uma fumaça escura e cheirava forte. Muitas vezes a banha ficava numa gamela ou numa taquara onde de um pedaço de trapo bem velho faziam o pavio. As narinas ficavam ardendo, ficavam escuras com a bicumã.
Comiam muito pinhão, frutas do mato pra você ter uma idéia, tratavam até a porcada que era criada solta, com guavirova, com o pinhão, para depois serem vendida era preciso então que fossem alçados. Aqui no Sudoeste se vendia porco em metro. Conforme fosse a altura, quanto fosse os cm do suíno era o preço.
- Não entendi? Vender os porcos medidos? Como se eles fossem uns pedaços de tecido? Quem ia medir? Se o Senhor me contou que eles eram criados meio selvagem.
- Vou explicar melhor. Tocavam a porcada e fechavam num mangueirão. Neste havia uma portinhola que era erguida por um dos peões. Numa marca, que ficava em um dos palanques, calculavam quantos porcos de meio metro passou. Depois erguiam          a madeira um pouco mais. Agora passavam os de um metro, depois um metro e meio e assim por diante.
- Vou contar isto na minha sala de aula. Os meus amigos vão achar muito engraçado. Será que a minha professora sabe deste fato?
- Conte a eles. Diga também que os porcos eram levados a pezito, como se diz, eram tropeados, daqui até União da Vitória e algumas vezes direto na divisa com São Paulo. Não esqueça que precisavam cruzar o rio Iguaçu, o rio Itararé e outros riachos que pelo caminho eram muitos, quase não havia pontes. Só nas picadas mais trilhadas que hoje são as BRs.
Os tropeiros procuravam um lugar menos fundo, no Vau do Iguaçu, e amarravam um porco pequeno num caíco, o bicho berrava, gritava, esperneava que dava dó. Este animal servia de guia, os outros cegamente se lançavam na água e seguiam o berrante. O porco nada muito bem, só precisa de uma direção.
- Que bom! Quantas coisas eu aprendi hoje. Como eu fico feliz porque você é o meu avô e o meu amigo querido. Não posso esquecer que você é também o meu professor.
Os dois abraçaram-se, o avô acariciou o neto demoradamente! Uma brisa suave chocalhou os galhos do velho pinheiro, fez as folhas da embuia farfalharem alegremente. Na linguagem que só as plantas entendem ficou claro que tantas histórias e estórias ainda poderiam ser contadas. Quantos fatos que presenciamos aqui desta coxilha, em todos estes anos que fizeram o progresso, que trouxeram o desenvolvimento do Paraná. Quantos homens felizes por aqui passaram descansando embaixo da sombra amiga. Quantos escravos de olhar perdido, com o semblante triste seguiram adiante, caminhando acorrentados.
Só é preciso que as pessoas mais experientes tenham o prazer de contar os fatos significativos ocorridos na vida de cada um, na vida de um povo, ajuntando assim a história da humanidade. Com isso a história se torna real, não fica esquecida na memória do tempo. Guardada nos baús E, as crianças que estão sempre prontas para ouvirem, irão assimilando como que a vida se fez, como que as coisas realmente aconteceram no decorrer da formação do povo a que pertencem.
Além do valor cultural, o fato prazeroso de contar de ouvir, será regado com o sabor da história contada pelo meu avô. A história que ele vivenciou!
 
(Neri França Fornari Bocchese)
 
 
 
 
“O POETA E A VIDA”     
 
As lágrimas vertidas
De um poeta sonhador
Traduzem suas virtudes
No trilhar sereno da saudade.
Apagaram-se as mágoas,
Caiu a máscara das verdades
E o poeta, mais uma vez,
Transformou seu sonho em realidade.
Navegou por mares sem fim,
Elevou-se ao infinito dos céus,
Tocou de leve as estrelas
E pousou seus olhos no luar prateado.
De sonhador a criador
Transpôs sua própria visão
E deu um gigantesco salto
Na direção de seus anseios.
Agora, o poeta não mais sonhava
Com algo inacabado
Pois, finalmente, seus desejos
Tinham sido conquistados.
 
(JÚLIO CÉSAR BRIDON)
 
 
 
 
ESMOLA
 
 
   EM MIM A SORTE ESCOLHE: CARA OU COROA. TRAGO NO FRIO METAL UMA MARCA QUE ABENÇOA E OUTRA QUE AMALDIÇOA, IGNORANDO VALOR. LANÇADO AO AR, ENQUANTO GIRO PARA QUE A SORTE DECIDA POR MERO CAPRICHO, UMA NECESSIDADE DESCONHECIDA APARECE PARA PEDIR ALGO VALIOSO, ENTÃO CAIO DE PÉ NO BARRO E NÃO VEJO MAIS A SORTE, ESTÁTICO À ESPERA DA DECISÃO DO CAVALEIRO. PARA QUE LADO CAIR?
 
(BRENNO DIAS)
 
 
 
 
NAS ENTRANHAS DO PASSADO.
 
Tempo, tento não me adentrar.
Não mais me situar
Nas entranhas do passado.
Dos “perdidos e achados”
Do papel amarelado, amassado.
Do livro já lido, revisado, repassado
Em ruínas, manchado com as gotas
Da chuva fina, da neblina
Que virou tempestade.
Apenas saudades!
Tentação e perdida ilusão.
 
(EDILSON NASCIMENTO LEÃO).
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