TEXTOS VENCEDORES DO I PRÊMIO SIMPLESMENTE AMOR
MEDALHA DE OURO - EDUARDO FRIEDRICH (SÃO LEOPOLDO-RS)
Aquela poderia ser só mais uma aula qualquer. A primeira de outro semestre que recém iniciava-se. Outra aula em que ele chegava atrasado. Mais uma em que, olhando para os lados, ele não via alguém conhecido. Esbaforido, conformando-se outra vez em estudar com novos e desconhecidos colegas, seus olhos se cruzaram. E então aquela nunca mais seria uma aula qualquer.
O sorriso dela destacava-se em meio ao olhar sisudo dos outros alunos. O sorriso mais lindo do mundo. Ao vê-lo, aquele sorriso surgiu, como que iluminando todo o lugar. Ela ergueu o braço, acenando para ele. Ele encarou-a, desnorteado, talvez mensurando a beleza do rosto que lhe exibia os dentes, em uma expressão convidativa. A delicadeza da mão, agitando-se graciosamente, a fim de chamar a atenção da sua visão. Desnecessário. O sorriso dela era hipnotizante. Impossível não enxergá-lo. Não somente os dentes, mas todo o rosto dela sorria junto. Era incrível. Indescritível.
Enquanto ele pensava todas essas coisas, ela continuava acenando. Após um tempo, ele voltou à realidade e foi se sentar ao lado dela. Cumprimentaram-se, e só. Assim que ele sentou-se, a professora começou a aula. A turma toda fez silêncio.
A professora falava e todos os alunos prestavam atenção, enquanto a mente dele voltava a perder-se em divagações. Estava encantado com a beleza da colega. Olhou-a com o canto dos olhos. Ela ouvia atentamente o que a professora dizia, fazendo uma que outra anotação. Já se conheciam de outras disciplinas, haviam feito alguns trabalhos de aula juntos. O sorriso dela sempre o impressionou. Mas nunca havia pensado, ou melhor, sentido aquilo. Sabia que ela tinha namorado, por isso sua admiração em relação ao sorriso sempre fora desprovida de um sentimento maior. Até aquela aula.
Ainda com o canto dos olhos, ele a observava. Era linda, sem dúvidas. Mas não era somente a beleza que chamava a atenção. O que a tornava diferente de todas as outras eram suas expressões. Ele então passou a lembrar-se das outras vezes em que estudaram juntos. Só agora percebia como as expressões dela marcaram sua memória. Quando ela sorria, era como se toda ela sorrisse também. Quando ela estava cansada, seus olhos adotavam um ar tristonho, tocando e preocupando a quem os visse. Quando estava triste, era como se todo um mundo entristecesse também.
Pensando nisso, ele não prestava atenção na aula. Nem disfarçava mais o seu olhar. Encarava-a diretamente, flutuando em meio a constatações tardias, há muito gravadas na sua alma. Foi então que ela percebeu que ele a olhava. Devolveu-lhe o olhar, acompanhado daquele adorável sorriso. Ele rapidamente esquivou-se, voltando-se para a professora, sentindo-se enrubescer.
Enquanto olhava para a professora, podia sentir o peso do olhar dela. Não tinha coragem de encarar a colega. Ainda desnorteado, não conseguia entender sua repentina timidez. Não era capaz de perceber o tamanho do sentimento que desabrochava em seu peito. Quando finalmente criou coragem para encará-la, ela não mais olhava para ele. Estava novamente prestando atenção na professora, anotando vez que outra algo que achava interessante.
A aula prosseguiu. Até que, para exibir para toda a turma uma série de lâminas em um retroprojetor, a professora apagou as luzes da sala. A projeção na parede teve início, enquanto todos os alunos ainda permaneciam em silêncio. Passado alguns minutos, ele sentiu o peso e o calor do delicado toque da mão dela sobre a sua. Sua pele arrepiou. Estremeceu quando o hálito dela soprou na sua nuca, os lábios dela distantes poucos centímetros do ouvido dele. O perfume dela tocava suas narinas, invadia o seu cérebro, dançava na sua mente. Não podia controlar aquela sensação estranha, tampouco conseguia entendê-la.
Ela não disse nada demais. Talvez comentasse algo sobre a aula. Ele não mais lembraria. Tudo o que saberia afirmar é que se tratava de uma pergunta, pois assim que ela terminou de sussurrar, foi a vez dele se aproximar do ouvido dela e dizer algo. Desse jeito, iniciou-se um diálogo entre os dois. Um diálogo casual, entre dois colegas, apenas. Conforme conversavam, ele sentia-se mais a vontade. Pensava estar dominando aquela sensação estranha, que ele não sabia explicar nem controlar. Ledo engano.
Continuaram a conversar, em detrimento da aula que seguia. Os assuntos não eram nada importantes; talvez falassem sobre as férias ou sobre suas expectativas para o semestre. O que de fato importava naquela conversa era a distância entre ele e ela. O papo seguia descontraído, mas seus rostos não. A cada resposta de um e outro, suas faces aproximavam-se mais e mais. Até que, num descuido dela ou numa precipitação por parte dele, suas bochechas tocaram-se; seus lábios roçaram-se.
Ato contínuo, afastaram-se um do outro, reflexo impensado devido ao choque do contato inesperado. Então, finalmente, encararam-se. Ele sentia seu coração bater descompassado. Aquela sensação estranha voltara com força máxima, deixando-o desorientado. Dessa vez, porém, não fraquejou e sustentou o olhar da colega. Via-a assustada. Talvez ele se sentisse embaraçado, mas o que viu nos olhos dela dissipou qualquer dúvida. Mesmo que sua expressão demonstrasse surpresa, seu olhar dizia outra coisa. Um brilho diferente de tudo o que ele já vira resplandecia em meio àqueles dois pontos negros. Ele percebeu que os lábios dela tremiam levemente, entreabertos. A timidez sumiu e, gesto irrefletido, ele soube o que fazer. Sua mão entremeou-se nos cabelos dela, puxando-a para si. Antes de fechar totalmente os olhos, ele pôde ver que ela também fechava os seus. E então os lábios de um tocaram os do outro.
Suas línguas entrelaçaram-se, descobrindo uma a outra. Ele sentia o hálito quente dela. Era bom. O perfume dela agora tomava conta de todo o seu ser, o fazia ir ao céu, tirava-o daquela sala de aula, deitava-o nas tenras nuvens dos sonhos jamais realizados. Difícil dizer quanto tempo passou naquele beijo. O tempo dos apaixonados é algo impossível de contar-se. Assim que voltaram do mundo dos sonhos, com a realidade de uma aula a bater-lhes à porta, seus lábios separaram-se rapidamente. Encararam-se outra vez, os olhos dela não mais brilhando. Agora eles também se mostravam assustados. Um sentimento de frustração oprimiu o peito dele, nascido do pavor visto nos olhos dela. Antes que ela voltasse a ficar de frente para a professora, desviando do seu olhar atônito, ele percebeu, mesmo no escuro da sala de aula, que ela agora era quem enrubescia. Confuso, ele também se voltou de frente para a parede em que a projeção das lâminas continuava a ser exibida.
A projeção na parede teve fim, as luzes foram novamente acesas, a professora continuou a falar. Nenhum dos dois tinha coragem de encarar o outro. Ela continuava anotando o que a professora dizia, parecendo, porém, nervosa. Sua mão corria mais, sua letra saía torta. Só então ele notou que a mão dela tremia. Olhando para as próprias mãos, percebeu que também elas tremiam. Atrás deles, ouviu algumas colegas cochichando e rindo baixinho. Falariam do beijo deles, talvez?
Absorto novamente em devaneios, ele tentava entender o que acontecera. O que tinha sido aquele beijo? Nunca tinha visto a colega daquela maneira. Tudo fora tão de repente. Não saberia dizer como tivera coragem de fazer o que fizera. Ainda mais sabendo que ela tinha um namorado. Não gostava disso. Ter desrespeitado o namoro dela. Mas não podia culpar-se, não fora algo pensado. Como pudera beijá-la? Estranho... Aquela sensação, agora mais do que nunca, oprimia o seu peito. Não sabia dizer como brotara aquele sentimento. E o olhar dela, depois de beijarem-se? O pavor sincero que exibira fazia com que ele se sentisse culpado. Precisava pedir desculpas. Mas como?
A professora encerrava sua aula, inconsciente do que acontecera enquanto explanava sobre a disciplina. Sem olhar para ele, ela guardou suas coisas, pegou sua bolsa e levantou-se, dirigindo-se para a saída. Ele a acompanhou apenas com os olhos, a timidez voltando a congelá-lo. Enquanto ela distanciava-se, ele pensava. Pensava, pensava e pensava. O beijo rodando na sua cabeça, repetidamente. Suas mãos tremendo ainda mais. Foi só então que conseguiu entender, de fato, o que sentia e o que tinha acontecido. Assim, não podia deixa-la ir embora sem uma explicação.
Os lábios dela tocando os dele deram-lhe a certeza de que não fora um ato despropositado. Era algo que há muito queriam, mesmo que inconscientemente. Jogou suas coisas na mochila e disparou atrás dela.
- Clarissa! Clarissa! Clarissa, espera!
Em princípio, ela tentou fazer de conta que não o ouvira. Vendo que era inútil, já que ele estava prestes a alcançá-la, ela parou. Lentamente, voltou-se para ele. O pavor ainda dominava os olhos dela.
- Clarissa, me espera, por favor... Eu, eu queria te pedir desculpas pelo o que aconteceu na sala.
Ela o encarava. Cabisbaixo, ele procurava a coragem que, assim como surgira, sumira repentinamente.
- Na verdade, não... Não quero te pedir desculpas por nada. Sei que talvez tenha sido uma falta de respeito eu te beijar, mesmo sabendo que tu tens namorado. – finalmente sustentou o olhar dela – Olha, eu sei que aquele beijo não foi um beijo qualquer. Sei que não fui só eu quem quis aquele beijo. E eu sei que sinto algo diferente por ti. Acho... Acho que eu estou apaixonado, talvez tenha estado esse tempo todo, não sei. Só o que eu sei é que eu quero ficar contigo, te beijar de novo. Mas sei também que não é justo te pedir para largar o teu namorado, mudar a tua vida por causa de um único beijo. Só o que eu quero é que pense nisso, por favor. Lembra o que aconteceu hoje, nessa aula. Pensa no nosso beijo. Se ele foi apenas casual, é porque foi um erro. Então, esqueça-o. Prometo nunca mais te importunar, nem ao menos conversar contigo novamente. Agora, se tudo tiver sido mais do que um simples beijo... Bom, nos veremos novamente na semana que vem.
Ela nada disse, apenas o mirava. Continuava assustada. Ele a encarava, esperando uma resposta. Ela deu-lhe as costas e seguiu seu caminho. Mas antes de virar-se totalmente, em uma mínima fração de segundo, ele vislumbrou o brilho do sorriso dela surgindo no seu rosto. Ela continuou seu caminho, sem voltar-se para trás. Ele a acompanhou com o olhar, até perdê-la de vista. Talvez o silêncio ou a aparente indiferença dela pudessem desanimá-lo. Porém, a visão do sorriso mais lindo do mundo, mesmo que por um ínfimo instante que fosse, era motivo mais que suficiente para ele crer em um final feliz para aquele desatinado e repentino sonho de amor.
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MEDALHA DE PRATA - AMALRI NASCIMENTO (RIO DE JANEIRO-RJ)
SAUDADES TUAS
A saudade tua
Congelou minha alma
E meu olhar ficou preso
Nas cavernas sombrias que abrigam
Globos sequiosos por te ver.
Minhas lágrimas
Já não são gotas,
Mas cristais minados
De um teto gélido de gruta.
Estalactites
Estalagmites
E ao encontro dessas,
Colunas de sal me prendem
Nas saudades
Tuas!!!
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MEDALHA DE BRONZE - LAÉRSON QUARESMA DE MORAES (CAMPINAS-SP)
NOTO
Noto em teus olhos, doce mãe, um certo brilho
E um sorriso quase eterno a florir por nós!
Noto cantiga de ternura em tua voz
E sei que esta felicidade é a dos teus filhos!
Noto, mãe de meu enlevo, que amo e enalteço,
Uma esperança que não te faz nunca triste!
E esta paz de amor, vida e fé, que em ti persiste,
Como as contas gastas do teu bendito terço!
Noto, ó senhora que me deste a vida e o hino,
Em tudo que fazes um quê do que é divino,
que me incentiva a nunca, jamais desistir!
Noto e guardo no meu coração, mãe querida,
Tantas lembranças do teu amor pela vida
que persigo ser melhor –enquanto existir!