ENTREVISTA COM ALFREDO NOGUEIRA FERREIRA
Sou da velha Lusitânia. Sou de Vila Nova de Gaia, a terra que deu o nome a Portugal. Era, primitivamente, uma povoação romana chamada Portus Calem que, com o tempo, passou a Portus Cale e, finalmente, Portugal. Comecei cedo na escritura. Aos 12, 13 anos, lia muito e sentia a vontade de escrever. Não houve influência parental nem alheia. Foi decisão própria.
Li e continuo a ler. Digo-lhe que, depois da aposentação, minha atividade primordial é a leitura e a escritura. Para ler prefiro a história. Para escrever, nada discrimino. Estão todos no meu canhenho.
Quando aparece uma palavra desconhecida solto um "viva" e corro ao dicionário. Gosto de bisbilhotar o dicionário.
A minha leitura se resume a livros. E há tantos na fila de espera...
Não participo de antologias e, no entanto, vejo o meu nome em diversas crestomatias. Explico: são poesias vencedoras de concursos e que, pelo regulamento, vão engrossar o florilégio. Se lançasse uma antologia, claro que sim, meu preclaro amigo vascaíno. E com todo o prazer.
Não faço parte de Academias de Letras. Por intermédio de vossa conspícua figura, sou, agora, membro correspondente da Academia Literária de Teófilo Otoni. Mas, não estou imune a outros convites.
Não faço ideia. Como já referi, após a aposentação vivo escrevendo e lendo. Mas, claro, não deixo de frequentar os bancos, os supermercados, as livrarias, os parques desportivos, coisa naturalíssima para qualquer indivíduo. Essas ocupações servem, até, para uma descontração das pressões que enfrentamos no quotidiano.
Em absoluto. Em prosa ou em verso sinto-me à vontade. Que nem um Phelps na piscina.
9. Você possui algum lugar onde publica textos virtualmente? Qual?
Não. Não tenho. Apenas em publicação real, em jornal.
Procuro pintar o quotidiano da vida. Um excelente poeta da Academia de Letras de Santa Catarina chamou-me de "poeta dos acontecimentos", após elogiar a harmonia, a eurritmia dos versos. Quase todos os poemas têm um cunho histórico, social, filosófico ou religioso.
Aprecio a arte em todas as suas manifestações - literatura, artes plásticas, música, teatro, cinema, arquitetura "et reliqua". Nas modalidades esportivas vamos encontrar, também, momentos manifestos de arte.
Escrevo e vou continuar a escrever. "Quero semear, levar de mão em mão o verso, espargir a arte o mais longe possível e a todos. Só espero - como na parábola de Cristo - que esta semente não caia em terreno pedregoso, nem entre espinhos, mas em boa terra para que frutifique e jamais resseque". Isto escrevi, alhures.
Da literatura, em geral, gostaria imenso que ela pudesse atrair mais leitores. Falo, pensando em livros. Pois, nota-se uma tendência de peso - e que parece aumentar - para o lado da literatura virtual. A respeito de ambas espero que se aproximem mais da língua tradicional, sem rebaixamentos e atentados à língua de todos nós. E, quanto ao estilo, que seja ele o adequado a todos os que leem, ou seja, que todos a entendam sem dificuldade alguma. Que não sigam na prosa o que se passa no verso. O charadismo e os arranjamentos entraram na poesia e emporcalharam-na. Ao construir o concretismo há setenta anos e a metalinguagem nos dias de agora, golpearam o verso e eclipsaram o Belo.
Infelizmente a minha resposta é pela negativa. Verifico isso a cada instante. O livro desapareceu das mãos dos brasileiros. Na rua, nos transportes e com qualquer lugar é o "smartphone" (com perdão da palavra) que predomina. E a predominância vai para a música. Em casa, televisão.
14. Você costuma registrar seus textos na FBN antes de publicá-los? Sabe da importância disso?
Nunca registei trabalho algum na FBN. No meu livro (único) aparece uma sigla ISBN. Sinceramente, desconheço a sua importância. Gostaria mesmo de que essa importância me fosse aclarada.
Apenas um livro que festejou, há pouco, o primeiro aniversário. Toda a edição desse livro foi e continua a ser dadivada a escolas, universidades, bibliotecas, academias e grêmios literários e a entidades filantrópicas.
Confesso que não o conhecia. Foi ao receber uma mensagem que falava em literatura e convidava a um concurso e cujo remetente tinha Caruso em seu nome. Associei-o, logo, ao grande Caruso, o napolitano do canto lírico.
A literatura faz parte da minha vida. Comecei com cartas que dirigia aos familiares e amigos mais distantes. Era um meninote de 12, 13 anos. Lia muito, nessa fase da vida e sentia, então, uma vontade enorme de escrever.
Exerci durante quase quarenta anos o magistério na Universidade Federal de Pelotas. E como cirurgião-dentista do SESI foram mais de quarenta anos. Estes misteres deram-me e à minha família um viver seguro, sereno e que mantenho até hoje. A prosa e o verso, reitero, foram atividades de lazer sempre apetecíveis e íntimos. Mas, só após colaborar no Diário Popular - o jornal mais antigo do Rio Grande do Sul - é que comecei a avultar como homem das Letras.
Hoje, desfruto a beleza de Florianópolis num "otium cum dignitate".
Eis o que tinha a responder ao questionário do querido e "grande Caruso". Um forte e vascaíno abraço.
"Ex toto corde"
Alfredo Nogueira Ferreira