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TEXTOS VENCEDORES DO IV CONCURSO OLIVEIRA CARUSO
TEXTOS VENCEDORES DO IV CONCURSO OLIVEIRA CARUSO

- CATEGORIA "POESIA"

 

MEDALHA DE OURO

DÉBORA NOVAES DE CASTRO (SÃO PAULO - SP)

 

CENA DE NATAL

Um pinheirinho fosse
ao pé da estrebaria,
e minha essência exalaria
a incensar a manjedoura,
berço do Deus-menino.

Fosse eu  a ovelhinha
na simplicidade da cena, e radiante, a lã ofertaria
para Maria envolver
o corpinho sagrado.

Um jumento, pato,
galo, galinha, um porquinho,
água do poço, lago, a ponte,
com certeza, eu exultaria
por tão alta honraria.

Ouro, incenso e mirra...
A  Estrela? Essa, eu não seria;
pois a única credencial
veio do Trono da Graça,
diretamente do “Pai”.

 

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MEDALHA DE PRATA

 

ELAINE CARELLI (SÃO CAETANO DO SUL - SP)

 

Natal

 

Talvez, do outro lado dessa rua vazia

exista uma criança impaciente

aguardando que eu acenda as luzes de Natal

no cenário da minha sacada fria

Talvez essa criança exista ainda,

aqui mesmo nesse corpo ausente

aprisionada nas memórias vagas

deitadas no sofá, tão somente...

esperando que a escuridão se encha com as pequenas luzes que a infância tímida,

de gestos contidos,

tocava sob a árvore alta

e os brilhos piscantes, de repente,

viravam nuvens de pirilampos,

revoando em círculos de desejos infinitos

Tomada pelo sono, na aurora vespertina que é a vida em que me encontro

sem mapas e sem guias

seguindo apenas a falta que se sente,

das noites que eram dias,

das esperas que se cumpriam,

dos Natais que ressurgiam,

vive essa criança na alma adormecida

embalada pela canção da festa natalina

e no silencio das inocências efêmeras,

transforma luzes artificiais

em lembranças de tantas estrelas....

 

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CARLOS EDUARDO POMPEU (LIMEIRA - SP)

 

VELHOS E NOVOS NATAIS

 

Velhos e novos Natais,
sempre os mesmos,
sempre iguais.

Em cada um
a esperança,
que tão pronto se renova,
tão pronto se desfaz.

Mas na alma da criança,
que existe em todos nós,
há sempre uma esperança
de eternos Natais,
sempre novos, sempre velhos,
sempre iguais,

 

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MEDALHA DE BRONZE

 

EDILSON NASCIMENTO LEÃO (URANDI - BA)

 

Nascimento e esperança

Amor, reciprocidade, Cristo é a verdade

Tempo de reflexão e de ajuda aos irmãos

Amem-se uns aos outros, assim como ele nos amou

Lembre-se de que, com a fé, nossa luz nunca se apagará.

 

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MARIA DO CARMO ARAÚJO DE SOUSA (BELÉM - PA)

 

Natal de emoção

 

                                             Natal!

                                             Natal de emoção,

                                             Junto da pia

                                             Ao pé do fogão.

                                             Natal

                                             De lavar a louça,

                                             Natal

                                             De limpar o chão.

                                             Alguns

                                             Ganham presentes,

                                             Outros

                                             Não ganham não.

                                             Uns

                                             Têm peru na mesa,

                                             Outros

                                             Não tem nem pão.

                                             Alguns

                                             Têm amor pra dar,

                                             Outros

                                             Ódio no coração.

                                             Alguns

                                             Recebem carinho,

                                             Outros

                                             Decepção.

                                             Enfim

                                             Isso é a vida.

                                             Mas

                                             Somos todos,

                                             Irmãos!

 

 

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- NA CATEGORIA "PROSA"

 

MEDALHA DE OURO

 

ANGELICA MARIA VILLELA REBELLO SANTOS (TAUBATÉ - SP)

 

                                         UMA NOITE DE NATAL

                                                                                       CONTO

 

      A noite estava estrelada. Seu Zé, o vendeiro, saiu à porta de seu boteco, sentou-se num dos degraus e ficou se deliciando com a brisa fresca que àquela hora amenizava um pouco o calorão do dia. Refrescava-se e admirava o céu. Tão lindo! Como é que Nosso Senhor tivera a ideia de fazer uma cobertura tão bonita para a Terra? Ah! Só Ele mesmo para imaginar essa belezura!

      Ali, daquele terreiro iluminado apenas pela luz fraquinha da lamparina da venda, é que se podia ver bem todas as estrelas. A lua não viria naquela noite, nem nas três seguintes. Ele sabia. Era sempre assim, naquela época do ano. Ela cedia todo o espaço para o brilho de suas companheiras. Só elas enfeitavam o céu. E, no meio delas, a bonita cruz cintilante, bem feitinha, para lembrar o sacrifício de Nosso Senhor. Nessa hora, ali, embevecido, seu Zé até esquecia das agruras de sua vida solitária, no meio do nada da cabeceira do rio Cipó. Podia ser sempre assim...Só ele e a maravilha do céu, que parecia vir descendo e chegando mais perto dele.

      De repente, de mistura com as vozes dos animaizinhos noturnos, ele ouviu seu nome: “Seu Zé! Ô Seu Zé! Me acuda!” Parecia o gemido de um fantasma cortando o silêncio dos sons humanos naquela pradaria deserta. Mais uma vez o chamado. Ele levantou-se, olhou em volta e percebeu de onde vinha a voz. Entrou, pegou a lamparina e saiu para os fundos da casa. Algo como um monte de roupas amassadas mexeu-se e dois olhos enormes se ergueram para ele.

      _ Sou eu, Seu Zé, a Maria da Fazenda do Aterro. Me ajude, por favor!

      O que estaria fazendo ali a moça que fora criada desde que nasceu, pela rica Sinhá Rogéria? Assim, jogada no canto do muro, tão tarde da noite... Ele a amparou e a levou para dentro. E então notou a barriga enorme da moça, denunciando uma gravidez já bem adiantada.

      _Acho que está na hora, Seu Zé, ela gemeu, agarrando as mãos dele.

      _ Mas, Maria, o que posso fazer? Eu não entendo disso; aqui, fora o balcão da venda, só tem esta esteira já arrebentada onde eu durmo. Não tem mulher aqui...

      _ Pelo amor de Deus, Seu Zé! Peço pela criança que vai nascer. Me ajude!

      Ele, como um autômato, estendeu alguns trapos de saco sobre a esteira, onde Maria se deitou. Aflito, saiu no terreiro, olhou o céu e pediu: “ Nosso Senhor! Me ajude a ajudar a Maria. Eu sei que essa criança é do Nhonhô Paulino, marido de Sinhá Rogéria, que forçou a coitada da Maria. Já me contaram essa história aqui na venda. Todo mundo neste pedaço de sertão sabe o que aconteceu. E Sinhá Rogéria, aquela peste, esperou até o último momento para jogar a pobrezinha na estrada... Santas estrelas do céu! Me ajudem! Ajudem a Maria! Vocês estão aí, pertinho de Nosso Senhor, pisquem para Ele, brilhem mais para Ele, fazendo um sinal em direção à minha pobre casa. Por favor!”

      Assim implorando e passeando os olhos pelo firmamento, ele viu que a bonita cruz de estrelas estava justamente sobre a vendinha. Ele nunca a vira ali...Ela ficava se olhando nas águas do Cipó e depois ia seguindo para o outro lado, até desaparecer mais tarde, lá nas lonjuras da escuridão.

      Nessa hora, um choro forte levou Seu Zé para junto de Maria. E, na pobreza daquela

vendinha,  os dois, entre risos e lágrimas, cuidaram do menino.

      _ Sabe, Maria, ele vai se chamar Jesus!

      _ Por que, Seu Zé? Por que esse nome?

      _ Porque, Maria, hoje é noite de Natal e um milagre aconteceu.

      O som de um sino se fez ouvir, trazido pela brisa fresca que acariciava a noite. E, no céu, o Cruzeiro do Sul permaneceu, mais reluzente ainda, encimando a casinha tosca de Seu Zé...

     

 

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NYLTON GOMES BATISTA (OURO PRETO - MG)

 

O ANJO E O PADRE

 

Serafim é um jovem anjo dos muitos existentes entre as hostes celestes, desejoso de visitar a Terra, especialmente uma pequena cidade da antiga Palestina: Belém. Jovem anjo é força de expressão, porque em se tratando de anjos, não se pode dizer que os haja jovens ou velhos, não estando suas existências limitadas pelo fator tempo. Ele já conhece a Terra, tendo a visitado uma vez, em ocasião muito especial, ou seja, quando do nascimento de Jesus. Fora ele um dos se desincumbiram da missão de divulgar a boa nova aos homens; aos homens que, de boa vontade, quisessem ouvir a palavra do Mestre. Agora deseja revê-la e verificar “in loco” os resultados da passagem de Jesus entre os homens.

Procura no Céu o “Departamento de Saídas”, onde preenche um formulário, dando todas as informações sobre os objetivos da viagem, recebendo em troca a “Autorização de Saída”, que deve ser apresentada na “Secretaria dos Negócios Terrenos”. Nesta última “repartição”, o funcionário encarregado de atender casos semelhantes ao do Serafim verifica sua ficha, constata estar tudo em ordem, e, passa aos detalhes finais, talvez os mais importantes em todo o processo de saída.
_ Então, o colega deseja fazer uma visita “sob disfarce” à Terra?
_ Há muito acalento esse desejo – confirma Serafim – viver pelo menos algumas horas, como humano, na cidade onde já estive uma vez; a cidade onde nasceu Jesus.
_ Quando deseja ir?
_Por ocasião do Natal; é a ocasião mais propícia.
_ Ir à Terra “sob disfarce”  requer providências especiais, por isso, raramente se concede uma autorização nesse sentido. O disfarce consiste em assumir a identidade de uma pessoa humana, vivendo no momento, mas, de tal maneira que a pessoa em questão não seja prejudicada, molestada, posta sob suspeita de ser protagonista ou agente de fatos estranhos. Muitas vezes até sugerimos que a identidade seja de alguém de vida simples, sem projeção na sociedade humana, isto porque não teria muita atenção voltada para si.

_ Eu conheço as exigências.
­ _ Mesmo assim gostamos de relembrar para evitar algum mal-entendido.

_ Compreendo. E se a permissão não me for concedida, saberei  acatar a decisão, esperando por uma nova oportunidade.
_ Aí é que o colega se engana. Antes que sua petição fosse oficializada, já estava aprovada. Só lhe resta escolher a identidade.
_ O anjo dos “Negócios Terrenos”  abre uma pequena cancela no balcão e convida o anjo Serafim a acompanhá-lo a uma seção interna da secretaria. Apresenta-o ao responsável pelo setor e diz:
_ Aqui é a seção do Cadastro. Nestes fichários – continua ele, indicando os grandes arquivos – estão registradas todas as vidas humanas em curso na Terra, sem exceção ou distinção. Se preferir, pode utilizar a aparelhagem audiovisual. É só introduzir o cartão-código da personalidade em questão. Tanto um quanto outro sistema lhe mostrará qualquer vida, desde o nascimento até o momento atual, nos mínimos detalhes.

                Serafim consulta vários arquivos, sem se decidir por nenhuma ficha. Ao cabo de algum tempo, retira uma já amarelada e meio gasta contendo alguns dados elementares. A ficha ostentava: nome – João; nascido em janeiro de l900; profissão – sacerdote. No alto da ficha, à direita, figurava uma combinação alfanumérica. Era o código.
_ Somente este? – indaga o responsável pelo cadastro, recebendo o cartão.
_ Sim, basta-me este.
_ Em meio a tantos cartões, você escolhe um, e, por que este?
_ Eu mesmo não sei explicar.
_ É estranho. Estas fichas são bem resumidas para que a escolha não seja influenciada por um ou outro detalhe, antes que se consulte o registro geral. Vamos ao audiovisual, onde poderá conhecer melhor esta personalidade, cuja vida já nos é tão familiar a ponto de lhe darmos um título.
_ Título?
_ Título ou apelido, como queira. Aqui nós o chamamos o “Novo Cura d’ Ars”. Daqui a pouco saberá o porquê disso.

                Ligados os instrumentos, inicia-se a projeção de uma cena em humilde casa de campo. O que ali se chamava projeção era quase a reconstituição física de toda a cena, reproduzida em todas as dimensões e movimentos. O expectador se sentia integrante da cena projetada, percebendo-lhe até mesmo os odores.

                “João, filho de lavradores incultos, somente aos quinze anos foi alfabetizado, e, então ouviu pela primeira vez a história da vida de Jesus. Ele, que até então não tivera qualquer formação religiosa, ou qualquer informação sobre uma vida espiritual, tornou-se empolgado com o pouco aprendido, mas não satisfeito, pediu ingresso em uma escola religiosa. Decidiu-se pela carreira sacerdotal. Não foi um estudante brilhante. Tinha muita dificuldade em captar o sentido das palavras do professor, o que lhe custava fortes zombarias por parte dos colegas. Nos folguedos era sempre preterido. Sua saúde também não era boa; consequência de uma infância muito maltratada e mal alimentada. Apesar disso, conseguiu ordenar-se. Foi designado pároco de uma pequena paróquia, distante, em região inóspita, isolada daquilo que se convencionou chamar civilização. O cargo de pároco, em Três Palmeiras, estava vago havia quinze anos. Os dois últimos padres vistos por lá não ultrapassaram um ano de permanência. Um desistiu, fugindo da cidade na calada da noite; o outro foi morto a tiros, por tentar separar uma briga entre bêbados defronte à igreja. No dia em que o padre João chegou à cidadezinha, tudo foi feito pela população para que ele desistisse. Escoltaram-no à casa paroquial, aos gritos de blasfêmias, palavrões e insultos à sua dignidade. Não satisfeitos com tudo isso, ainda instigaram alguns cães para que o atacassem.

                Os primeiros meses foram difíceis para o pobre sacerdote. A distância que o separava de qualquer outro centro populacional, a hostilidade dos paroquianos, a falta de assistência de seu bispo, também distante, foram seus maiores obstáculos. A fome era sua inseparável companhia. A igrejinha estava sempre vazia. Mesmo assim, sozinho, conseguira livrá-la um pouco das teias de aranha, fizera alguns remendos no assoalhado e, no terreno em frente, plantou alguns canteiros de flores. Com o tempo, o povo foi se afeiçoando à mansidão do padre e já não o maltratava. Algumas senhoras começaram a frequentar a igreja, e, com elas apareceram as crianças. Mais tarde, os homens aderiram e o padre João iniciou o seu verdadeiro trabalho, que se prolonga por cinquenta anos. Raramente recebe uma comunicação do bispo, que o visitou apenas uma vez, por algumas horas. Está completamente desatualizado quanto às renovações dentro da sua Igreja. No entanto, realizou uma obra religiosa e social de valor inestimável. Vive unicamente em função da pequena paróquia, e, apenas um desejo ele acalenta como satisfação pessoal: conhecer Belém. Costuma dizer que não morrerá, enquanto não satisfizer esse desejo, ao que alguns paroquianos, fazendo troça, comentam: vai virar Matusalém, pois, como e onde conseguir dinheiro para uma viagem dessas?

                Ao fim da projeção, o funcionário comenta:

_ Sabe agora o porquê do apelido “Novo Cura d’Ars”. Você fez uma escolha perfeita. O padre João, sendo figura desconhecida, vivendo longe do local que você pretende visitar, nenhum fato ligado a esta viagem despertará  atenção, pois, muitos são os religiosos peregrinos à Terra Santa por ocasião do Natal.

                Serafim assume a identidade do padre João, um velhinho magro, estatura mediana, claro, barba muito longa, vestindo uma batina surrada, porém muito limpa, e, partiu. Encontra tudo transformado, muito comércio em torno do nome do Menino, cujo nascimento ele anunciara ao mundo. Engraçado; ele, como anjo, tinha o nascimento do Messias como recém-acontecido.  Sob o disfarce humano, pelos padrões terrenos, vê a data se perder na vastidão do tempo. Não há nada que lembre o ambiente e a atmosfera daquela noite histórica. Tudo é diferente, mas, o que mais decepciona o anjo peregrino é a beligerância entre os homens, por motivos que antes os deveriam unir, como a interpretação e aplicação dos ensinamentos do Divino Mestre. Em nome do Cristo os homens exterminam-se, enquanto sua doutrina é cada vez mais esquecida. – A espécie humana deve estar  enlouquecendo – pensa  Serafim no meio da multidão, que se acotovela nas ruas.

                Em Três Palmeiras, muito longe dali, esquecida de todos, desconhecida até dos mais elementares meios de comunicação, o Natal  é também comemorado. Em todas as casas há movimentação de pessoas, entrando e saindo a sobraçar pacotes. As crianças, em grupos formados diante das casas, divertem-se felizes. Pratos de doces se trocam através das cercas, ou nas portas das casas, ao som de violas dedilhadas por mãos aclimatadas às intempéries, na luta pelo sustento diário. À noite, a igrejinha é insuficiente para conter todo o povo que, em respeitosa procissão, conduz as imagens de Maria e de José, desde a casa da família escolhida, naquele ano, para presidir a festa do Natal. O padre João entoa, numa voz rouca, os mesmos cânticos aprendidos no seminário. O sermão é um reflexo da humildade e pureza, características marcantes do venerando sacerdote. Relembra aos presentes os fatos principais relativos ao nascimento de Jesus, comparando a simplicidade do meio onde Ele nasceu e a daquela comunidade, que o ouvia em absoluto silêncio.

“Desde a minha juventude, desejei ardentemente ir a Belém por ocasião do Natal, mas, as dificuldades, para empreender uma viagem como essa impediram a realização do meu antigo sonho. Somente agora, já sob o peso da idade, entendo que a minha Belém está aqui. Foi preciso viver até  hoje, para compreender o verdadeiro significado desta comunidade em minha vida. Vejo em cada um de vocês uma célula da verdadeira fraternidade, que deveria ser a humanidade, não fosse sua insistência em valorizar o ilusório e negar a verdadeira ESSÊNCIA que lhe dá origem. Agora sei que Belém não está geograficamente limitada a qualquer parte do mundo, mas é cada comunidade ordeira e consciente do seu papel; é cada lar, onde haja paz e se trabalhe pela paz; é o coração do indivíduo que, em sintonia com as forças do bem presentes em todo o universo, vela pelo irmão”.

                Ao dizer estas palavras, o padre vai se abaixando devagar, ajoelha-se com a testa apoiada na borda do altar. Os fiéis imitam-no. Por alguns minutos, o silêncio e a quietude imperam no templo, enquanto cada um medita no sentido da mensagem ouvida. O acólito, estranhando a longa interrupção em ocasião imprópria, acerca-se do sacerdote.

                Um a um, os demais se põem de pé e, em fila diante do altar, rendem a primeira homenagem póstuma àquele que vivera e encerrara sua vida promovendo-os. Como se houvesse previamente estabelecido, o silêncio feito, quando pronunciadas suas últimas palavras, é prolongado. Ninguém ousa levantar a voz, enquanto o corpo do velho pároco não baixa à tumba, na tarde ensolarada do dia seguinte.

                Por não chegarem até lá os modernos arautos, Três Palmeiras não lê o que os grandes jornais publicaram: “OBSCURO SACERDOTE REPETE, EM BELÉM, O FEITO DE SÃO PEDRO” – logo abaixo o texto continua. “....simplesmente JOÃO foi o nome com o qual um padre de oitenta e nove anos se apresentou, para rezar uma das missas natalinas na cidade de Belém. Pároco, há mais de cinquenta anos, de uma pequena localidade chamada Três Palmeiras, em longínquo país, o padre não despertou muita atenção, exceto pela simplicidade e pobreza indisfarçável. Entretanto, ao sermão aconteceu o prodígio. Além dos dotes oratórios e do vigor da mensagem transmitida, ele, falando uma única vez, fez-se entender em todos os idiomas e dialetos ali presentes, tal nos narra o Novo Testamento, quando da primeira fala de São Pedro ao público. Após o ofício religioso, o sacerdote voltou ao anonimato de onde surgira. Ninguém mais o viu”.

                Naquele mesmo dia, dois padres velhinhos, idênticos em tudo como se fossem gêmeos, dão entrada no céu. A única diferença é que um ostenta uma alegria incontida, enquanto o outro chora.

 

 

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FERNANDO CATELAN (MOGI DAS CRUZES - SP)

 

A ÚLTIMA NOITE DE NATAL DORMINDO COM O INIMIGO

 

 

            Salesópolis, cidade interiorana cravada na Serra do Mar onde se localiza a nascente do Rio Tietê. As pessoas nessa localidade, sempre, economicamente falando, haviam se dedicado ao extrativismo, mas nos últimos anos ganhou força entre a gente dali, com sua população limitada a cerca de 15.000 habitantes, a apicultura. Mais adensados os moradores à diminuta vila de topografia toda acidentada, também se nota em Salesópolis ao menos metade de seus habitantes concentrados na vida em sítios distantes do núcleo central daquele pólo urbano:

            - Nunca viu o Nirdo com um copo de cerveja na mão, Ana?

            - Juro que não, mamãe! O Nirdo é gente boa...

            - Bem, isso são outros quinhentos, minha filha, e exibia a Ana o maxilar destroçado pelo finado marido, quando, se querendo por fim à bebedeira daquela noite desastrosa, o homem apanhou o que tinha de mais pesado à mão, no caso a tampa de uma panela de pressão, e, em um lance certeiro, a arremessou contra a mulher.

            - E quer compromisso com você, Ana?

            - Sempre que falamos nisso ele é o primeiro a dizer que quer muito conhecer a Sra., mãe. Já namoramos!

            - Está bem, então, filha. Você está chegando aos vinte anos e se não arrumamos logo um partido para você vai ficar é pra titia, pois suas irmãs não são de perder tempo não! Traga o rapaz aqui na noite deste sábado que estou querendo conhecê-lo...

            Ana foi aos sinos com a deliberação da mãe, sentindo no peito um pulsar ainda mais arrítimico tomando-se como referência quanto de alterações nas palpitações vivenciara tendo conhecido Nirdo. O moço trabalhava com afinco no Restaurante Luso-Brasileiro, tradicional centro de gastronomia de Salesópolis. Muito procurado à noite, mas em particular aos finais de semana, o ambiente, rústico, a bem da verdade, era a autêntica morada de Nirdo, que ali só não pousava, mas com seu tempo absorvido de domingo a domingo. Nirdo, chefe de mais dois rapazes, encarregava-se de esfregar o chão de pavimento de cimento tingido com corante, uma peça bem rústica sobre a qual se assentavam mesas e cadeiras metálicas conseguidas a título de brindes de cervejarias que entregavam mercadoria em grande quantidade lá.

            O trabalho de Nirdo não parava por aí. Também na cozinha seus préstimos eram requisitados, de tal sorte que quando não o entretinham outros afazeres, revelava-se o descendente de português que era como tal sempre com uma nova receitinha na ponta da língua, o bolinho de bacalhau vendido com estrondoso sucesso lá fórmula sua:

            - Nirdo, Nirdo, minha mãe deseja falar com você!

            - Sobre aquele assunto, Ana?

            - Sim. Por que, isso o contraria, querido?

            - É que tanto quis isso que mal posso acreditar, Aninha! Mas quando está marcado o encontro?

            - Sábado agora à noite. Você vai, não?

            - Temos um banquete marcado para essa data e horário, meu bem, mas quem sabe conversando com o Seu Antônio ele não me dá essa folga, não é mesmo? Por falar nisso, olha ele chegando!

            - Seu Antonio, como vai essa força?

            - Estou bem, meu anjo! E tu, andas para frente ou à marcha ré?

            - Sempre como o Sr. me ensinou. Sem nunca perder o horizonte de vista!

            - Que queres, meu fiel escudeiro?

            - A companheirinha aqui há de se tornar minha esposa, assim, se for da anuência do Sr. me conceder uma breve folga neste sábado à noite, eu estaria pedindo a mão de minha Ana em noivado...

            - O único problema, caro Nirdo, é que temos um banquete agendado para sábado à noite, o que conflita com o horário de teu compromisso. Mas, se voltares em no máximo uma hora e meia, estás liberado para quanto tenhas a fazer. São meus votos que o amor de vocês siga sempre venturoso e faço uma única exigência – que a festa de noivado e a celebração de vosso casamento transcorram aqui, e por conta da casa!!!

            Nem Seu Antonio ou mesmo seu fiel colaborador, ele ladeado ainda mais por Ana, praticamente agora sua nubente e de maneira íntima o cingindo, talvez em razão do calor das emoções tão febrilmente gerado perceberam a visível espionagem que se desenrolava por conta de Nívea e Alice, divas esculturais com muito tempo de casa no Restaurante Luso-Brasileiro, que nem muito se esforçavam em apurar a audição a fim de melhor captar o diálogo que seguia em curso, se próximos aqueles que naquele momento se entregavam ao colóquio ruidoso.

            Desde que Nirdo contraíra namoro com Ana, a dupla se unira objetivando, com feitiçarias, bruxedos e magia negra, promover o desenlace do casal. A questão agora era mais séria. Ou jogavam pesado ou nada.

                                                                                          - x –

            - Muitas colegas minhas andam falando que vivem pegando você de conversa fiada com a tal da Nívea e aquela outra que não desgruda dela. É verdade isso, Nirdo?

            - Querem saber de nosso casamento, do andamento da sua gravidez, querida...

            De uma hora para outra, nem bem Nirdo tendo se casado com Ana, começou o rapaz a se prestar de marionete às duas funcionárias de Seu Antônio. Aquele que com compenetração se preparava para ser pai, face ao que, de certa forma, a poder de chantagem, lhe impunham Nívea e Alice, ia sorvendo bebidas alcoólicas. Quando as duas transbordavam o conteúdo do vasilhame ou entornavam muito do líquido no copo diziam em tom jocoso:

            - Ah, essa foi pro santo!

            Seguindo as orientações de Mãe de Ingá, não tardou a dupla malévola a fazer de Nirdo um alcoólatra inveterado, a tal ponto que perdera o emprego, obrigando a esposa a sair do repouso forçoso de quem recém-ingressa no sétimo mês de gestação. Para o cúmulo da desdita de Ana, o dinheiro para a cachaça de Nirdo por bem ou por mal saía dos parcos recursos amealhados por Ana em seu notório desvelo em busca da meta de manter seu lar em pé, não obstante tudo conspirar no sentido contrário.

            Quando o alcoolismo foi invadindo a casa de Ana, tinha a moça por convicção não passar tudo aquilo de um ligeiro desequilíbrio na vida do companheiro seguramente motivado pelo estresse do marido no ambiente de trabalho, mas, situando-se, então, o rapaz na condição de desempregado, não tinha hora para chegar nem para sair, diante de seu comportamento estranho em relação ao nascimento da primeira filha, tendo sua mulher optado por deixar a criança aos cuidados da avó, em horários determinados indo à mãe amamentar sua primogênita.

            Justamente na primeira noite de Natal que viveriam como casados, Ana se desdobrava em orações fervorosas no sentido de que as coisas em seu lar melhorassem, assumindo a mais cristalina postura de beata, até tudo crendo poder ser melhorado com o endosso da fé. Ao mesmo tempo que rezava, aquela moça virtuosa cuidava das comidas que com total desvelo preparava para o marido, que, por sinal, àquela hora deveria estar em casa, dado o fato de naquela data se comemorar o Natal:

            - Onde você está, sua vagabunda???!!!

            - Calma, calma, meu bem. Não quer que eu sirva sua ceia?

            - Que ceia o quê!!! Vamos já para a cama!!!

            Ana corou qual se movida por pudor sem que Nirdo, olhos voltados para a mesa onde fora posta a ceia de Natal, pudesse atinar com o matiz agora rosáceo de sua tez de pele sempre pálida. Raciocinava Ana com seus botões e nisso se sentia estimulada às raízes que pela primeira vez Nirdo faria amor com ela, quando até mesmo quanto à paternidade de Júlia, dada a indiferença do parceiro, atribuía o feito aos Céus, ou, atestando sua fé extremada no catolicismo, a Jesus. Seria aquela a primeira noite dentre as tantas compreendidas nos cinco anos seguintes em que Ana experimentaria toda espécie de torturas, que, longe de meramente mutilar seu corpo, infundiriam em sua alma um trauma que bula de fé, tratamento algum seriam capazes de extirpar dos mais interiores recônditos de seu ser:

            Enquanto Ana, mais afoita dada a longa abstinência, já tratava de se despir revelando grande desenvoltura no ato, partia do companheiro a contra-ordem que deixava a mulher petrificada e inaugurava no circunscrito daquele casal uma prática que sabia Ana existir, mas nunca imaginaria deter Nirdo tão magistralmente por exímio domínio:

            - Assim, sua vaca!!! Roupa em você é só pra esconder a vagabunda que você é!

            - Ah, Nirdo, não faça isso comigo e eu te dou tudo que você quiser...

            - Olhe que vou pegar na palavra!

            - É só pedir, meu amor

            - Então quero uma prova de amor. Se é Natal, você vai me dar agora um belo presente

            - Fale logo o que você quer, Nirdo

            - Eu quero a tua caverna do diabo, Ana

            - Isso não! Por todos os santos da minha devoção não!

            - Então se não vai por bem, vai por mal mesmo, sua cadela!!!

            O ato de introdução e retirada com extrema agressividade do falo de Nirdo no reto virgem de Ana provocava nesta dores de uma intensidade que sequer no parto de sua Júlia conhecera. Aquele ato brutal, selvagem, medieval à medida que não era consensual entre os parceiros,   findava por Nirdo saciar seu instinto grotesco, ao passo que, na contrapartida, ficava Ana fisicamente machucada, enquanto seu psicológico morando no desolo, afinal jamais quisera tão covarde atitude para si e quem mais em sua vida simples amava.

            - Que quê você acha, ô Aninha? Está gostando dessas torcidas na sua orelha? Não foi hoje que Jesus nasceu? Então que tal se é hoje que você morre?

            - Por... por... fav... favor, Nir... do! No...ssa... fi...lha de...pende de nós

            - Aquela que você arranjou com Deus? Esqueça dela que eu estou fora! Olha, tô levando a chave da porta para trancar a casa por fora mas volto,viu? Espere que vem mais, queridinha...

            - Não faça isso, Nirdo! Fique! Deixe que eu faça o seu prato...

            Nem bem Ana pôde concretizar sua breve fala e a porta da casa já se fechava por fora em estrepitoso ruído.

- x –

            - Então, meu querido, fez tudo como nós te pedimos?

            - Será que esqueci alguma coisa, meninas? Ah, acho que deixei o soco inglês em algum canto da casa. Mas prometi que volto logo. Aí vocês podem estar certas que esbugalho os olhos da Ana. E meu presentinho de Natal, meninas?

            - Você não deixa barato, hein cara? Agora você vai curtir mais uma vez essas duas vampirinhas suas do jeito que você quiser

            O trio se encontrava nas dependências metidas no breu do Restaurante Luso-Brasileiro. À parte do respeito que o estabelecimento infundia, os três tinham seu modo todo próprio de evocar sua tradição. Foram às dependências onde acharam mais conforto e principiaram a orgia daquela madrugada:

            - Hoje estamos liberadas para você, Nirdo. Vá pelo caminho que quiser. Barba, cabelo e bigode ao gosto, meu bem, de você, nosso freguês

            - Só não se esqueçam de meus drinques

            Nirdo refestelou-se enquanto pôde, já que sua natureza lhe impunha limites. A contragosto de Nívea e Alice, deixou o ambiente para voltar a infernar Ana, que, àquela altura, receando o retorno anunciado do marido, simulava ao menos dormir:

            - Vamos, pare de fingir, sua cadela!!! Achei essa coisinha que vai te fazer um bem danado, está vendo?

            Enquanto Nirdo adaptava o soco inglês aos dedos das mãos, Ana ainda suplicava:

            - Não me bata mais, Nirdo! Não faça isso de novo!!! Eu te amo, cara!!! Será que você não vê isso???!!!

            - Falando grosso, hein? Mas agora esse teu chilique vai acabar. Vou dar um jeitinho só nesse rostinho de princesa!

            Aplicando o soco inglês no rosto de Ana, macerou-o à custa de um padecimento atroz a que Nirdo submetera Ana vivenciar. Notou, entretanto, Ana, que a embriaguez surtia agora o efeito do torpor, da sonolência em Nirdo, de modo que deixando o rapaz adormecer sua consorte apropriou-se da chave da pequena, mas jeitosa casa onde viviam. Deitada ao lado do marido com quem firmara votos de união pelo matrimônio arrependia-se do âmago da alma, com o olhar o escrutinava, o varria de cima a baixo, mas, em que pesassem os maus tratos, ainda se sentia presa ao esposo por uma espécie de compaixão à guisa de um papel que lhe competesse exercer em prol da redenção de seu esposo. Já se misturavam aí a sina de amor e misericórdia, caminhos, em verdade, em nada paralelos mas mais se aproximando do cruzamento de retas, qual se um único ponto de conciliação lhes restasse, talvez a filha Júlia. Antes que Nirdo viesse a despertar, o que só ocorreu por volta das quatro da tarde do dia seguinte, Ana, vendo que Nirdo demoraria a acordar, correu atrás de um chaveiro, providenciou a segunda cópia do importante instrumento e, assim que o homem acordou, nem sequer deu pela falta momentânea da chave onde a deixou.

            Só poderíamos acrescentar aos cinco anos seguintes em que Ana viveu dormindo com o inimigo detalhes irrelevantes, já que variações sobre o mesmo tema. O que se teria a dizer além do que abrange este relato é, como bem se poderia supor, que, ano após ano, Nirdo mais e mais definhava em decorrência do abuso do álcool. Nos dois últimos anos desse atropelo em que convertera sua vida o alcoólatra já convivia com sérios agravos orgânicos, raríssimas as ocasiões em que conseguia ao menos se suster sobre as pernas para mover qualquer das agressões noturnas um dia encetadas contra Ana, que não maculava o futuro da filha com denúncias à polícia dada a família do marido ser tradicional em Salesópolis, só mesmo a se dizer que cinco anos após o debute nas agressões de Nirdo a Ana aquela viria a ser a última noite de Natal em que Ana dormiria com o inimigo.

- x –

            - Ô belezocas! Matei todas, tá ligado?

            - Você falhou em sua missão, Nirdo. Deveria ter tirado a Ana do caminho e vir pra essas suas dondocas e seus dentões

            - Então ucês são vampironas?

            - Lógico! Agora relaxe e morra!!! Ou está pensando que vamos querer esse trapo que a cana fez de você?

            Quatro caninos bem alongados, dois de cada lado, tiravam ao mesmo tempo um sangue bem mais puxado ao álcool. Até mesmo pelo odor que exalava, bem à propriedade de nauseabundo. Nívea e Alice, agora ainda mais vitalizadas, na última noite de Natal de Nirdo definitivamente com ele não dormiriam, ainda que bons comparsas, já que o corpo ressequido de Nirdo dava entrada no velório municipal de Salesópolis.

 

 

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MEDALHA DE PRATA

 

CORACY TEIXEIRA BESSA (SALVADOR - BA)

 

Quem vem lá?

“Anjo”

Espiou pela janela: o calçamento da rua vazia apenas ecoava o som dos passos que se aproximavam. Aguardou. Houve silêncio, o que fez a ansiedade aumentar. Quem seria, a essa altura? Não esperava ninguém. Por que, então, se convencera de que seria alguém a procurá-la? O tamanho da sua solidão competia assim com o seu desejo de companhia? O silêncio, agora mais denso, cobriu a rua como um cobertor de lã que não agasalhava ninguém. Inquieta, ampliou a abertura da janela e fincou os cotovelos sobre o parapeito, numa atitude de desafio. Seu “Quem vem lá?”, num tom medroso, não obteve resposta. Debruçou-se, para vasculhar até mais longe o trajeto da rua. Continuava vazia e silente. Reminiscências perturbaram-na ainda mais: numa noite como esta, a caravana de ciganos passara sacudindo a imaginação das crianças com a ameaça de rapto, como os adultos se compraziam em aterrorizá-las. Também naquela ocasião, ela se aventurara a espiar pela janela. O que vira? Cavalos bem cuidados cavalgados por homens e mulheres trajando roupas coloridas e fazendo brilhar o ouro dos dentes em sorrisos largos, felizes. Nenhuma criança estivera à vista, o que a tranquilizara.

Suspirou. Estava perdendo tempo deixando-se envolver pala imaginação. Acreditou que se enganara ouvindo ruídos imaginários. Ninguém se aventuraria àquela hora tardia, muito menos com a intenção de assustá-la. Recuou da janela e ia fechá-la quando, novamente, ouviu o som de passos. Mais perto. Mais perto. Mais perto ainda! Trêmula, escancarou novamente a janela e debruçou-se sobre o peitoril. Nada! Ninguém! Irritada, gritou: “Quem vem lá?”. Ninguém respondeu e os passos se calaram. Estaria ficando maluca, doente de solidão?! Bruscamente, fechou a janela e afastou-se em direção ao seu quarto. A lamparina acesa iluminava o pequeno presépio sobre a cômoda, heranças de família. Resolveu orar, sem muita fé, pedindo alívio para a sua angústia.  Ajoelhou-se. Pareceu-lhe ouvir novamente o ruído de passos, desta vez às suas costas. Tremendo incontrolavelmente, girou sobre os joelhos e deu de frente com alguém aparentemente desconhecido. Terror foi o mínimo que sentiu. A seguir, predominaram a surpresa e a dor ao constatar a presença do homem que desaparecera de sua vida, sem nenhuma explicação, há tantos anos! Sem acreditar, automaticamente repetiu a pergunta: “Quem vem lá?” “É o Ano Novo, que vem pagar velhas promessas!”, respondeu-lhe o homem, tomando-a nos braços.

A mulher, ainda incrédula, sorriu e abandonou-se ao amor tardio que retornara, como um presente de Natal.

 

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MEDALHA DE BRONZE

 

ANTÔNIO PAIVA RODRIGUES (FORTALEZA - CE)

 

O QUE A PAZ SIMBOLIZA

 

A paz que você procura muitas vezes está no silêncio que você não faz. Por isso, vamos conjugar o verbo pazear e sermos felizes para sempre. Eu pazeio, tu pazeias, ele pazeia, nós pazeamos, vos pazeais, eles pazeam. Cristo Jesus conversava como seus discípulos ensinando-lhes a prática da paz. Infelizmente, a maioria dos hominais ainda hoje desconhece a paz. A ausência da paz está presente nas guerras, nas batalhas, nas desavenças familiares, nas intrigas entre amigos, no egoísmo, na inveja e no mal-estar provocado pelos indolentes, pelos prepotentes e os que se afirmam como donos da verdade.

A verdade só a Deus pertence. Três homens que conquistaram a humanidade nos deram lições de paz. Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho. (Mahatma Gandhi); A paz não pode ser mantida à força. Somente pode ser atingida pelo entendimento. (Albert Einstein); A paz, se possível, mas a verdade a qualquer preço. (Martinho Lutero). Muitos homens que fizeram a história da humanidade se preocupavam com a paz. Na minha vida de estudante, de homem que prestou serviços à comunidade em termos de segurança pública, eu repassava a meus subordinados a importância que a paz tem para nossas vidas.

O grande Platão dizia que a paz do coração é o paraíso dos homens. Uma vez que as guerras nascem no espírito dos homens, é no espírito dos homens que se devem erguer as defesas da paz, palavras de Archibald Mc Leish. Nunca houve uma guerra boa nem uma paz ruim excelente frase e de muito contexto de Benjamim Franklin. Jesus disse: "Deixo-vos a paz, a minha paz eu vos dou; não vo-la dou como o mundo dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize". (João 14.27). Nos meus pensamentos, após minhas meditações eu falava: todos precisam da paz. Paz de luz que brota dos corações.

Que amenizem espinhos dilacerantes. Que sejam benéficas e reconfortantes. De esplendor "diamantizado" de sensações transformando a tristeza em alegrias, sem sensações de desconforto e disritmias, que nos alvejem a alma e o espírito… Que os rios de sangue se transformem em água cristalina, abundante e sadia, que venha afogar a violência tenaz, pertinaz, deletéria, transformando-a em doce e eficaz. Tranquilidade nos traz, além do alívio recalcitrante. Reverbero das palavras destoantes e sofríveis, unificação a sinonímia natural e benfazeja de quem deseja alvitrar com reconforto e emoções, estabilizando as sensações de insegurança, mas de perseveranças.

Que nasce feito uma criança, com fortes gritos de amor. Lastimamos a crença debilitada, mas almejada dos povos em conflitos, em gritos, dores e horrores. Que conclamam aos reinos dos céus, a bonança esperançosa. Destruidoras dos dissabores, dos sofrimentos ásperos, sagazes e violentos. Com uma rajada de vento seja exterminada do mundo a violência, com segurança firme e audaz e que nos traga a paz. Tal almejada, querida, que sare as feridas da dor e do desconforto. Do desgosto descomunal, em lugar venha o amor fraternal.

O perdão e a caridade que são antídotos da violência e fazem recrudescer a paz. Paz! Paz! Paz! Desejamos com todos os brados, com a compreensão de todos, insanos e profanos, e que sejamos tocados pela benemerência divina, que ensina, verte as energias fluídicas do amor, da esperança e da Paz! A Paz tal auferida, desejada que seja alcançada com os desígnios do Senhor. Ele é a paz, a Esperança e o Amor. Ele cessa a dor e traz esperanças para que tenhamos fé, piedade e vigilância, pois seu azimute é amor, e a soma desses amores será resultante de um clamor atendido, a paz no tempo devido…

"Eu sou a paz, a esperança e a vida, quem acredita em mim, mesmo estando "morto" viverás. Que seja louvada a Paz"! Nos meus tempos de mocidade eu aprendi a letra de uma bela música canta por Roberto Carlos, intitulada? Na paz do seu sorriso e nunca mais esqueci. ! Na paz do meu sorriso, meu sonho realizo. E te beijo feliz (bis). E na ânsia mais louca no céu da sua boca, do alto as estrelas me dizem meu bem. Que a vida é isso, que eu vivo por isso, que você me dá, me dá. Na paz do seu sorriso, meus sonhos eu realizo e te beijo feliz.

E a beleza é nada se for comparada com tudo que eu vejo em você, meu bem. O amor é perfeito, me amarro no jeito que você me dá, me dá tudo isso que você meu bem me dá (repete quatro vezes). Na paz do teu sorriso meu sonho realizo e, te beijo feliz (bis) . E nós dois num abraço rolamos no espaço, me perco no amor com você, meu bem. E perco o juízo, pois o paraíso é o que você me dá, me dá... Tudo isso que você meu bem me dá. Que Deus nos traga alegria nesse final de ano, que nossos sofrimentos se transformem em alegrias com intensos momentos de paz. Pense nisso!

 

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MARCELO DE OLIVEIRA SOUZA (SALVADOR - BA)

 

O Mesmo Início de Ano

 

Todos ansiavam para que o ano passado terminasse, as expectativas quanto ao futuro são grandes, tem pessoas que mudam alimentação, vestuário e até consultam oráculos a fim de que possa ter uma melhor sorte. 


O presente ano chegou com toda a sua juventude, com pessoas cheias de entusiasmo, sonhos e desejos para serem alcançados, contudo percebemos logo nesse início que as coisas tendem a continuar, os impostos saltam aos olhos à procura do conforto da quitação, a crise que nosso presidente insistia tanto em negar já está batendo às portas dos brasileiros, com isso o desemprego aumenta ainda mais, o que vem acompanhado de muito sofrimento e medo. 


A violência continua assustando o cidadão de bem, os hospitais superlotados e desaparelhados ainda com esses mesmos dramas, não têm condição de receber pacientes de todas as regiões. 


O tráfico de drogas já domina não somente a Soterópolis, já possui conexões em todo o mundo, os viciados se endividam, quando as dividas não são saldadas, pagam com a própria vida. 


O Turismo ainda insiste em aumentar, mesmo com a falta de incentivo e investimento dos órgãos públicos. 


A cidade se prepara para o carnaval, as propagandas já estão penduradas nos postes de iluminação, as arquibancadas sendo montadas, os camarotes no mesmo caminho, a exclusão continua durante a festa momesca, com isso a violência se perpetua em mais um campo de guerra, onde a desigualdade torna-se um acinte nesses dias de festa. 


Todos esses ingredientes são apenas uma amostra de que os anos mudam, as esperança renasce no coração das pessoas desde o Natal, porém na vida real é muito diferente, para os desafortunados as coisas continuam iguaizinhas a dez, vinte anos atrás, onde a falta de direitos é uma constante. 


Festas e festas iniciam-se e terminam, as belezas da nossa terra são mostradas a cada canto longínquo do nosso país e do mundo, mas os invisíveis sofredores de plantão somente são notados, quando a sirene da ambulância ou da polícia é acionada, tornando-se mais uma ocorrência. 

 

 

 

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